Dez “chispas da indignação”

Boa parte dos políticos brasileiros, ao que parece, não entendeu as causas das “chispas da indignação” que varrem o país. Ou se fazem de desentendidos, à espera do passar do tempo, na esperança de que este se encarregue de resolver os problemas.

Pregar financiamento público de campanha; acusar extremistas pelas arruaças de um amontoado de vândalos; culpar a imprensa por estimular os protestos, entre tantas outras bobagens ditas por agentes de governos, é fugir da verdade ou, no mínimo, menosprezo à inteligência do cidadão. 

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Vamos lá, para que não haja dúvidas.

A população foi às ruas:

1 – por se sentir desamparada pelo Estado, a quem paga uma carga estúpida de tributos e não recebe, em troca, o direito de ver seus filhos ir à escola com um mínimo de segurança;

2 – cansada de ouvir que a educação é prioridade e que, ao invés disso, vê absoluto descaso com a qualidade do ensino e desprezo com os professores mal preparados e desestimulados;

3 – pelo caos da saúde pública: sem hospitais, sem médicos, sem atendimento, apenas com filas intermináveis e o recurso à justiça para garantir o básico e o essencial;

4 – pelo custo excessivo de um transporte coletivo deficiente, que a obriga a viajar espremida e desrespeitada em ônibus e trens sem conforto, ao mesmo tempo em que o governo estimula a compra de automóveis aos borbotões;

5 – pelo escandaloso tamanho da estrutura do poder, repartido em dezenas de ministérios e distribuído por cotas, maior ou menor conforme a capacidade de barganha de grupos e partidos;

6 – para protestar pela criminalidade que se expande e se sobrepõe ao direito e à autoridade;

7 – para dizer não aos gastos com luxuosos estádios de futebol que vão ficar às moscas, depois das Copas;

8 – para exigir que o Ministério Público tenha poder, sim, de investigar quem se apropria do dinheiro público, como ocorreu com os quadrilheiros do “mensalão”;

9 – exausta com essa corrupção ilimitada e com a impunidade absoluta; com os “mensalinhos”; com os “aloprados”; com os dólares em cuecas; com os parlamentares instalados na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, apesar de condenados pelo STF; com o short colorido e abusado de Carlinhos Cachoeira; com o menosprezo de quem “se lixa para a opinião pública” e escolhe o pastor Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Renan Calheiros para a presidência do Senado Federal;

10 – enfim, o povo invadiu o centro das cidades para dar um basta à “violência institucional contínua” que sofre por inação do Estado, como disse o jornalista espanhol Juan Árias, correspondente no Brasil do jornal “El País”. 

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Faria bem a presidente Dilma Rousseff se afastasse de seu convívio o secretário Gilberto Carvalho. Não deve ser bom conselheiro quem culpa a mídia por esses protestos do povo.

 

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