As “chispas” da indignação

Há dez dias, esteve em Porto Alegre, convidado especial do ciclo Fronteiras do Pensamento, o sociólogo espanhol Manuel Castells. Ele é hoje um dos pensadores mais requisitados em Universidades e em fóruns de debates sobre as implicações de um mundo cada vez mais conectado através de redes sociais e a evolução das sociedades modernas.

Quem teve oportunidade de ouvi-lo recolheu bons subsídios para refletir sobre o que ocorre nas ruas e praças de grandes metrópoles, no Brasil e no mundo, com protestos nem sempre pacíficos.

Castells escreveu vários livros, com destaque para a trilogia A Era da Informação, estudo fundamental sobre os impactos da tecnologia na política, na cultura, na economia, na sociedade. 

+++ 

São “chispas de indignação”, disse o sociólogo, para definir a onda de protestos que invade o mundo.

Lembrou que essas “chispas” foram identificadas no Occupy Wall Street, ocorrido em dezenas de cidades americanas e não apenas em Nova York; no movimento espanhol Indignadas e na ocupação da praça Taksim, na Turquia.

Neste último caso, os protestos iniciais tiveram por motivação o projeto do governo de substituir a praça por um conjunto arquitetônico de interesse empresarial.

Pacífico, inicialmente, o movimento passou a aglutinar insatisfações de todas as origens, muitas delas de indignação contra o governo.

Há semelhanças nas ações: não existe um líder formal, tal qual estamos acostumados; articula-se a ocupação de espaços públicos, na internet e nas cidades; são movimentos autônomos, locais e globais; quanto mais repressão, mais imagens.

E as imagens são fundamentais, elas é que serão reproduzidas nas redes sociais para gerar ainda mais protestos.

Parece claro que esses movimentos todos reivindicam mudanças e mais democracia, sem que eles saibam, exatamente, que democracia é essa assim reivindicada. 

+++ 

No caso do Brasil, são muitas as razões que justificam os protestos. Além da tarifa do transporte coletivo, há na voz das ruas “chispas” pelos gastos exagerados do governo, pela corrupção e pela impunidade, pela péssima qualidade da saúde e da educação, pelo alto custo de vida, pela carga de tributos que sufoca as empresas.

Muitos brasileiros há que não concordam com os custos dos estádios construídos para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.

Ou se imagina que o povo é capaz de aceitar a insensatez da construção de um Mané Garrincha, em Brasília, ao custo de um bilhão e trezentos milhões, para sediar meia dúzia de jogos? E o que será feito com esses gigantescos equipamentos em cidades e Estados onde sequer há equipes de futebol? 

+++ 

Essas “chispas de indignação”, originadas de emoções, é que provocam mudanças sociais ao longo da história.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.