Bobagens do rei Roberto

Reis não são imunes a dizer e fazer bobagens.
Temos dois, bastante populares e, cada um a seu modo, com frequência patrocinam frases inadequadas e gestos pouco inteligentes.
Isso não quer dizer que não os admire. Ao contrário.
Tive o privilégio de assistir a Pelé em campo. E, tal como eu, ninguém é capaz de esquecer a fantástica seleção brasileira campeã do mundo de 1958, quando ele, ainda menino, apareceu para o universo do futebol.
Tem o péssimo hábito, entretanto, de se julgar o melhor do mundo e responder de forma primária a seus adversários.
Ainda agora, quando Romário repetiu sua frase tão conhecida – “Pelé calado é um poeta” – Edson Arantes do Nascimento respondeu:
- Sou católico apostólico romano e acredito que Deus sempre perdoou os ignorantes e eu perdoo os ignorantes.
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O que me leva a este comentário é uma atitude do rei Roberto Carlos, cuja carreira acompanho desde os tempos da Jovem Guarda.
Ele possui um talento raro: ao longo de sua carreira soube produzir músicas apropriadas aos homens e, especialmente, às mulheres de sua geração. Daí que os estádios e cruzeiros onde ele se apresenta estão sempre com as lotações esgotadas.
Roberto Carlos tem um problema, desde sempre: enorme dificuldade para aceitar qualquer tipo de crítica. E isso é imperdoável para uma figura pública, sempre sujeita à observação rigorosa de admiradores e do público.
Ele exagera nas suas reações.
Ao receber, há poucos dias, convite para o lançamento do livro Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, trabalho de mestrado em moda da catarinense Maíra Zimmermann, correu para seu advogado e ingressou na Justiça exigindo sua retirada de circulação.
Quem o leu garante que não há no livro qualquer menção desabonadora ao rei Roberto. Nem sequer é citada sua prótese na perna, que originou a proibição de duas outras publicações que a referiam: O Rei e Eu e Roberto Carlos em detalhes.
Maíra, em seu trabalho, apenas analisa mudanças de comportamento e do estilo dos jovens dos anos 60, graças à música de Roberto, Erasmo, Wanderléia, etc.
O livro, muito provavelmente, passaria desapercebido do grande público, pela temática ou pela escassa tiragem: apenas 1.000 exemplares.
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E é possível, ao final, que Roberto Carlos nos tenha prestado um bom serviço com essa sua atitude.
Há um projeto em tramitação no Senado, já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça, que elimina a proibição hoje existente no nosso Código Civil, de publicação de biografias de artistas, políticos, celebridades, vivas ou mortas, sem prévia autorização do biografado ou seus herdeiros.
Uma excrescência que as democracias, regra geral, não aceitam e que pode ter sua eliminação apressada, graças à repercussão da atitude absurda e inconveniente do rei Roberto.

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