Anvisa determina redução do iodo presente no sal

Segundo especialista, excesso de iodo no organismo pode causar câncer de tireoide

Médico endocrinologista, Marcelo D’Ávila

Após publicação no Diário Oficial da União, ocorrida na última quinta-feira, 25, as empresas fabricantes de sal têm prazo de 90 dias para se adequar à medida da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que determina a redução da quantidade de iodo presente no produto. A medida, que vinha sendo discutida desde 2011, foi aprovada com o objetivo de eliminar os efeitos nocivos à saúde, causados tanto pela deficiência, quanto pelo excesso de iodo.

Uma pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que a população brasileira é uma das maiores consumidoras do iodo. No País, cada pessoa consome, em média, 8,2 gramas de sal por dia. A decisão prevê uma adição mínima de 15 e uma máxima de 45 miligramas de iodo por quilo de sal. Antes, o Brasil adotava entre 20 e 60 miligramas por quilo.

Segundo o Ministério da Saúde, o brasileiro consome, em média, 12 gramas de sal por dia – uma das maiores taxas do mundo. A Anvisa informou, na época, que fez um acordo com a indústria para a redução de sal nos alimentos até 2020. 

ENTREVISTA

Para explicar um pouco melhor a importância do iodo e os prós e contras dessa substância no organismo, foi contatado o Dr. Marcelo Domingues D’Ávila, endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia.

 A Plateia: Qual a importância do iodo no organismo?
Dr. Marcelo D’Ávila: A principal função do iodo no organismo é servir de substrato para os hormônios da tireoide (Levotiroxina e Triiodotironina, T4 e T3, respectivamente). Consequentemente, a quantidade de iodo disponível no meio ambiente é essencial para a formação desses hormônios. Habitualmente, todo o iodo que ingressa no organismo tem origem na alimentação; é reduzido a iodeto no intestino delgado, onde é totalmente absorvido. Sua meia-vida no sangue é de apenas 8 horas, pois é removido constantemente pelos rins, de forma passiva, e ativamente pela tireoide. Seu consumo diário recomendado é de 150 microgramas para adultos, 90 microgramas para crianças e 200 microgramas para gestantes. 

A Plateia: Quais são os efeitos nocivos causados pela deficiência do iodo? E pelo excesso?
Dr. Marcelo D’Ávila: A deficiência de iodo pode resultar em retardo mental, bócio e hipotireoidismo; na gestação, aumenta o risco de abortos e anomalias congênitas, além de baixo peso ao nascer. Já o seu excesso aumenta a incidência de hipertireoidismo, doença tireóidea auto-imune e, segundo algumas evidências, câncer de tireoide. 

A Plateia: Quais os riscos do consumo excessivo de sal?
Dr. Marcelo D’Ávila: Os maiores riscos do consumo excessivo do sal não estão relacionados ao iodo, mas a outra substância: o sódio. Seu excesso aumenta o risco de disfunção renal, hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais. O sódio também provoca retenção de líquidos. Cabe lembrar que o sódio não é exclusividade do sal de cozinha, mas também está muito presente em conservantes, condimentos (caldos e temperos industrializados, por exemplo), enlatados e bebidas gaseificadas, entre outros. Via de regra, todo produto processado é rico em sódio. 

A Plateia: De que outras maneiras o corpo poderia suprir a necessidade de iodo presente no sal?
Dr. Marcelo D’Ávila: As principais fontes de iodo são os alimentos de origem marinha: ostras, moluscos, mariscos e peixes de água salgada. Além destes, leite e ovos produzidos por animais criados em solos ricos em iodo também o contêm, bem como vegetais cultivados neste tipo de solo. 

A Plateia: Existem alimentos que devem ser evitados por conter muito iodo?
Dr. Marcelo D’Ávila: A maior fonte de iodo é mesmo o sal marinho. Convém lembrar que muitos contrastes utilizados para realização de exames de imagem podem conter iodo; há que se cuidar, portanto, quando houver histórico de alergia à substância.

 

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