Olhos da lei

A grande repercussão que teve em todo o Estado a prisão do estudante santanense que confessou ter assassinado seis taxistas em Livramento e em Porto Alegre, no fim do mês de março, expôs ao mesmo tempo a pouca confiança na estrutura da Segurança Pública no Brasil e o grau de esperança que a sociedade insiste em manter nos servidores públicos, apesar de muitos casos de negligência, prevaricação e outros pecados no atendimento ao cidadão, em diversas áreas. No caso em tela, méritos mais do que merecidos para os agentes da Polícia Civil no Rio Grande do Sul e, especialmente, aos integrantes da Equipe de Investigações da 1ª DP de Livramento. Foi a partir de um trabalho iminentemente técnico iniciado aqui mesmo, na cidade, que se chegou à identidade do acusado. Com apoio dos peritos lotados no município e a ajuda imprescindível, em se tratando de uma região de fronteira, da Polícia uruguaia, os agentes da Polícia Civil conseguiram reunir elementos mais do que suficientes para a materialização da série de crimes. Pode-se considerá-lo um verdadeiro “serial killer”, dado que a desculpa da falta de dinheiro para pagar as contas não justifica a sequência de crimes. Em um assalto a estabelecimento comercial, se dinheiro fosse o objetivo de seu ato criminoso, poderia obter resultados mais efetivos, mas optou por eliminar friamente um a um seis chefes de família – desconhecidos para ele -, ainda que nos primeiros assassinatos já se percebesse que não seria nesse tipo de crime que arrumaria o dinheiro que alega ter precisado para pagar suas contas atrasadas. A falta de motivação, como se sabe, é um dos maiores entraves em um processo de investigação criminal. Sem recursos técnicos próprios, os policiais apelaram para um compensatório: os serviços particulares de vigilância. E foi através deles que se conseguiam as primeiras pistas sobre o “modus operandi” da série de crimes, às quais se somaram em seguida o resultado dos levantamentos periciais nos veículos, o rastreamento dos telefones celulares das vítimas e os depoimentos de possíveis testemunhas. Restou, assim, evidente o fato de que tais equipamentos e estrutura operacional são na atualidade imprescindíveis como base para o trabalho de investigação da Polícia Civil. A questão da instalação de uma rede de vigilância feita por câmeras instaladas em pontos estratégicos do centro, bairros e até mesmo na zona rural do município, apresenta-se, assim, como uma alternativa extremamente válida para ajudar no combate à criminalidade na fronteira. Não apenas com relação aos pequenos furtos e arrombamentos de lojas, residências e veículos, mas também devido aos crimes de maior magnitude ligados às características de fronteira seca entre Livramento e Rivera. Interessante e curioso constatar fatos como a confirmação de que as duas cidades gêmeas são há anos um dos principais corredores de passagem do tráfico de drogas, de armas e até mesmo de pessoas, conforme já evidenciado em grandes investigações nacionais como a CPI das Armas desenvolvida pelo Congresso Nacional, e como contraponto terem sido feitos raríssimos investimentos na área da segurança pública no lado brasileiro da fronteira, principalmente em relação ao patrulhamento mais ostensivo – aquele que objetiva evitar o crime, não apenas esclarecê-lo. Talvez seja o momento de dedicar mais atenção para essa questão.

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