Sábado na praça

Inicialmente, o sábado foi de aguardo por parte da administração pública municipal, instalada na praça Artigas. Desde as primeiras horas da manhã, até meio-dia, as pessoas tiveram a oportunidade de conversar com Prefeito, vice e secretários municipais. A ideia era basicamente captar demandas sobre problemas, dificuldades conjunturais, estruturais, especialmente questões que pudessem ser encaminhadas com certa celeridade.

Isso ocorreu. Em menor escala do que pudesse ser esperado, dado o comparecimento de pessoas em menor número do que fosse possível supor para quem acreditava que uma verdadeira multidão acorreria à praça Artigas.

Evoluiu. Do aguardo para atendimentos conforme apresentavam-se os cidadãos.

Como foi o primeiro evento, é descartável o pensamento de que poucos são aqueles que se interessam em ir apresentar-se e fazer o exercício pleno de sua cidadania, reivindicando. É interessante deixar de lado essa avaliação inicial, dadas algumas constatações: um sábado pela manhã, muitas pessoas trabalhando em suas atividades; a praça Artigas já tem públicos e notórios seus problemas, sendo, na verdade, um ponto de transição entre Prado e Centro.

Gerada, portanto, a expectativa de que talvez seja interessante realizar no sábado à tarde (em que pese muita gente trabalhar também nesse horário, como os colaboradores de algumas lojas e supermercados) e, de outro ângulo, há a questão de que em vez de áreas de transição, a centralização de governo nos bairros mais afastados da região central, talvez vá registrar número maior de reivindicantes.

Iniciativa válida do governo municipal e que deve ter continuidade, mesmo que mensalmente, pois em que pese o comparecimento a menor – até em função do cidadão não ter o hábito de participar – é a forma mais legítima de exercer o poder com o conceito basilar, grego de democracia: o povo no poder.

Alguns detalhes, entretanto, chamaram a atenção, nos bastidores, no sábado. Fazem parte das relações políticas. São inerentes ao processo.

Muitos foram os que se dirigiram até a praça Artigas com a finalidade de fazer outro tipo de reivindicação: pedir emprego para familiares – o que, como já dito, pode parecer antipático à primeira vista, mas também é lícito e faz parte dos direitos da cidadania.

Era mãe praticamente exigindo vaga para filho que já fez parte da administração anterior; avô solicitando espaço para neto que recém concluiu graduação; pais requerendo que filhos fossem encaixados em algum dos cargos vagos da administração direta. Como argumentos, além das questões óbvias: como formação e capacidade alegadas, as questões partidárias, inerentes a filiações de longo tempo, integração nas alianças constituídas, amizades com fulano, beltrano ou cicrano, e por aí vai. Tem aqueles que juram de pés juntos no meio de quatro velas que conheceram integrantes da administração desde pequenos…

Outro elemento perceptível é que em situações assim – de concentração -, sempre há aqueles que permanecem orbitando ao redor dos acontecimentos. Não que tenham função ou atribuição específicas, ou mesmo que façam parte do sistema tão somente. É uma lógica: assim como existem aqueles que anseiam, para si ou para outrem, desesperadamente, um “espaço” – ou, como dizem na linguagem popular: “boquinha” – há aqueles que ficam desesperados por temerem perder aquela que já conseguiram.

Por último, e valorizáveis, aqueles que realmente trabalham intensamente buscando soluções.

E é a partir daí, justamente, que tolera-se as demais situações. E, portanto, a valia de eventos que permitam a interface entre quem detém mandato e quem o outorga.

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