Ah, a transparência

Em tempos de transparência, tem algumas questões que não vão a público. Mas, cedo ou tarde, aparecem. Em algumas situações não há nada demais em relação a divulgá-las, até com a transformação de um pé de vento em temporal, de um ratinho em um monstro gigantesco alienígena roedor.

A situação da Santa Casa de Misericórdia é uma incógnita. O ponto de interrogação que a envolve não é mensurável, pelo menos nas escala como se conhece.

Desde muito há quem peleie argumentativamente pela transparência no hospital, de pleno, com a divulgação efetiva de tudo o que acontece. Ou seja, tudo no exato sentido da palavra.

Todos os acordos, todas as situações, todo e cada um centavo público aplicado lá, enfim, publicitar de forma efetiva e – para usar a redundância – transparência, deveriam ser de conhecimento público.

Mas, a Santa Casa é de direito privado, é, na prática, uma empresa prestadora de serviços na área de saúde. Assim estabelece seu estatudo, sua certidão de nascimento.

Ali há interesses, como os há também na área pública, como também existe de parte de cada um dos cidadãos.

O interesse faz parte do contexto, sempre fez e sempre fará. Cada qual tem o seu e isso é legítimo, faz parte do que assegura o Estado Democrático de Direito. As pessoas associam-se e dissociam-se por interesse.

Harmonizá-los é que é a coisa.

É preciso parar de endeusar algumas coisas em Livramento, da mesma forma que é fundamental dar um fim no romantismo do tempo de antanho.

Um hospital não existe para ser bonito, nem feito. Existe para ser hospital. Se não é público, é particular. Pode também ser misto.

Tudo o que ocorre lá dentro tem um custo. Em dinheiro.

Ninguém trabalha de graça. E não adianta alguém querer que outrem o faça.

Essa é a realidade.

Saúde se faz com dinheiro. Desde a municipalização, o primo rico – a União – passou a bola, o estádio, o time e as camisetas para o primo pobre – o município. Mas ficou com o dinheiro dos ingressos e os patrocínios neste jogo que é injusto, mas real.

É preciso parar com a pieguice. Se o médico não quer trabalhar por “X” motivo, é seu direito. Cada um escolhe o quanto vale o serviço que presta. Se o SUS não remunera a contento, não trabalha para o SUS, pronto. Agora, quem tem contrato precisa respeitar o contrato. Seja com quem seja.

Assegurar a saúde, um direito do cidadão, é dever o Estado. Isso é o que diz a Constituição e, nesse sentido é que se deve fazer valer a Carta Magna.

Mas, antes de tudo isso, a transparência, inclusive das intenções, dos interesses e das verdades individuais devem ser propagados de forma a que as pessoas entendam claramente como as coisas funcionam.

Assim que isso ocorra, pode ter certeza de que farão o exercício de cobrança a quem de fato precisa ser cobrado e uma outra fase terá início.

As coisas precisam ser ditas como são – para usar uma frase do ex-presidente Collor (está certo, não é lá dos melhores exemplos que alguém possa usar) mas a frase é interessante: “Duela a quién duela”. Ou, da corruptela de espanhol que ele usou antes de seu impeachment: “Doa a quem doa”.

A verdade dói bem menos quando é dita de pronto. Protelar algo que está sem base, é erigido no empirismo é tergiversar da verdade, algo que, radicalmente, não significa demonstração de muita inteligência.

Assim, transparência também significa levar a verdade dos fatos a todos.

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