Ruídos…

Não que seja necessário falar para os daqui, pois todos sabem, embora não percebam, realmente a magnitude do que significa. Estão acostumados de pleno a morar onde seja possível estar, em tempo real, em dois países simultaneamente, no Brasil e no Uruguai. Sim, basta ficar em qualquer ponto da linha divisória que torna-se possível contrariar uma lei da física, usando a geografica e seus conceitos, ou seja, basta estar parado sobre um cordão, encostado em um marco.

O física e geograficamente improvável se torna possível e realizável. A única fronteira no planeta que permite a precisão dessa frase é Sant’Ana do Livramento (RS, Brasil) e Rivera (Uruguai), com seus mais de 3.000 quilômetros de fronteira seca, que abrigam canhadas, coxilhas, matagais, área urbana, caminhos rurais. São muitas as áreas onde é possível estar nos dois países do Mercosul ao mesmo tempo.

A preferida delas é o parque Internacional, pouco mais de 300 metros por 100 de um parque – ou praça, como preferem alguns – imaginariamente cortado ao meio, porém, realmente não fracionado.

A história já é conhecida pelos dobles chapas daqui. Com uma fonte luminosa binacional, erigida em seu centro, um obelisco que serve como marco geográfico de divisa, o Parque Internacional é a referência dos cartões postais dos fronteiristas. Para quem transita pela Sarandi e Andradas, ruas unidas pela divisa geofísica, basta olhar para o alto e visualizar duas bandeiras, uma verde-amarela e outra oriental. Brasil e Uruguai se fundem nesse local, que serve para uma foto que a maioria dos turistas faz questão de retratar. Para quem não é nascido nas duas cidades, ou vai pela primeira vez à Fronteira da Paz, é óbvia a confusão. “Onde está o Uruguai?” – questionam alguns visitantes, já pisando em território uruguaio. Os indicativos são tão simples e naturalmente visíveis que, por vezes, passam por imperceptíveis.

Quem desejar fazer a famosa foto pode escolher outros locais ao longo da linha divisória, que não divide, como se diz na Fronteira. Pode fazê-lo ao longo da Avenida Paul Harris ou no marco geofísico que assinala os dois territórios, situado no famoso bairro Fortim. Pode ainda transitar pela Avenida João Pessoa, chegando até os trilhos que cortam, provenientes do Uruguai, a Tamandaré. Enfim, são muitas as localidades que podem servir para consignar o registro, mas, nenhum deles é tão famoso e altivo quanto o Parque Internacional.

Ontem teve início, ou melhor, continuidade um trabalho – desta vez mais pesado, no que se refere à questão da divisa. Prova cabal de que tanto Marne Osório, quanto Glauber Lima estão pontualmente comprometidos com a concretização da integração, da mesma forma que o cotidiano ensina. Bom de ver.

Excelente de perceber que há vontade de fazer.

Talvez no barulho urbano, o melhor ruído que tenha sido ouvido nos últimos tempos, pelo menos por enquanto, seja o das máquinas pesadas fazendo vibrar o solo na Paulo Labarte/Federico Diaz. Depois de décadas servindo apenas aos donos de veículos possantes que dirigiam-se para “cima do Caqueiro” com a finalidade de despejar seu lixo, finalmente está havendo a valorização que a divisa merece. Local que receberá asfaltamento e iluminação.

Claro, ainda um local perigoso, segundo entendimento comum de uma significativa parcela de pessoas, porém, conceito que um dia poderá ser modificado.

Que sejam também ruídos do progresso. Do desenvolvimento. A Fronteira precisa ouvir mais esses ruídos. Mais constantemente, pelo menos.

E anseia por isso.

 

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.