O partido que não toma jeito

Foi um movimento político bem ensaiado, velho jogo de cartas marcadas.
Num dia, José Serra, pró-homem do PSDB, revela que “é boa para o Brasil e boa para a política”, a presença, na futura eleição, do governador Eduardo Campos, cada vez mais candidato à presidência da República em 2014.
Serra disse mais: estiveram reunidos, sim, mas não trataram de eleições. Houve apenas “uma conversa cordial sobre o Brasil, a política e a economia”.
E fez questão de adiantar que, “apesar do distanciamento político”, sempre foi muito amigo do ex-governador Miguel Arraes, avô de Campos, que o abrigou quando ambos estavam exilados em Paris.
Um dia depois, Eduardo Campos veio a público para dizer que “tem muito em comum” com o tucano e não há tanto distanciamento:
- Esse campo em que Serra sempre militou é mais próximo do nosso do que muita gente que está e esteve conosco na base de sustentação do presidente Lula.

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A declaração de Campos me faz recordar um encontro de jornalistas e políticos às vésperas da vitória de Lula sobre Serra, em 2002.
Ibsen Pinheiro, bom amigo e talentoso político, estava no grupo e lhe perguntaram em quem votaria. Excelente frasista, Ibsen respondeu de pronto:
- Sempre fui coerente. Voto no único candidato de esquerda: José Serra.

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Voltando à atualidade. O encontro entre José Serra e Eduardo Campos e as declarações públicas de ambos causaram – e não poderia ser diferente – enorme constrangimento entre os principais líderes tucanos, defensores da candidatura de Aécio Neves à presidência.
Para o próprio Aécio foi uma espécie de traição, porque havia se encontrado com Serra três dias antes, e este nada lhe dissera sobre a reunião com Eduardo Campos.
Tudo isso mostra que pouco mudou nas hostes tucanas, um partido que possui líderes expressivos mas que não consegue se unir minimamente em torno de um nome ou de alguma ideia capaz de gerar uma concreta proposta de alternativa de poder.
É bom lembrar que, na última eleição presidencial, Serra fez questão de esconder Fernando Henrique Cardoso e suas realizações quando presidente, um erro reconhecido mas tarde.
Serra, por sua vez, está dando o troco a Aécio Neves, que não teria se empenhado pela candidatura do tucano na última eleição presidencial vencida por Dilma Roussef.
Há um velho ditado, muito aplicado à política, segundo o qual, pior do que ciúme de mulher é ciúme de homem e isso parece vir a calhar à perfeição no caso dos líderes tucanos.

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Com uma oposição desse tamanho, Dilma Rousseff pode se dar ao luxo de uma viagem de dois dias a Roma, para a sagração novo Papa, com uma comitiva de dezenas de pessoas, alojadas em 52 apartamentos de hotéis super luxuosos.
Ela navega em águas serenas, até aqui, no rumo de uma reeleição também tranquila, se a oposição e a economia do país continuarem tal qual estão.

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