A BARBÁRIE ENTRE NÓS

Não sei se é correto dizer que a barbárie é filha da impunidade, pois barbárie sempre é um sinal de regressão comportamental, mas aplicada a nós, nos dias de hoje, o parentesco com a impunidade vigente é inevitável.

Há quem diga com humor ferino que se o Brasil continuar do jeito que está, nas três ou quatro próximas eleições iremos eleger bugios como nossos representantes parlamentares.

Na verdade, o que ocorreu nesta semana na frente do Mercado Público com a morte de um morador de rua a golpes de socos, chutes e culminando com o esfacelamento da cabeça da vítima, revela o parentesco da barbárie com a impunidade.

Basta que se busque o motivo da violência inominável contra o morador de rua. Ele acabara de assaltar um dos linchadores que pediu socorro a outras pessoas nas proximidades.

O grupo que assassinou o morador de rua poderia tê-lo imobilizado e chamado a polícia para prendê-lo. É aí, nesse quadro (não é diferente do que ocorre todos os dias na nossa cidade) que a impunidade se apresenta com seu sorriso maroto, como a serpente tentando Adão no paraíso, sugerindo “por que não apagar esse bandido?”

Quem pode garantir que o assaltado, no calor de seu ódio, não teve alguns segundos de projeção de cenas que mostram assaltantes permanecendo por um tempo menor na delegacia do que suas vítimas que foram registrar a ocorrência?

Quem já foi vítima dessa impunidade legal esquece que só a lei pode punir o crime e a isso se chama de justiça e nada pode estar acima da lei. Mas que lei é essa que estabelece a diferença maior entre povos civilizados e povos em busca de civilidade?

Nas civilizações mais adiantadas, os bandidos, os assassinos, os ladrões do dinheiro público, os pedófilos, os estupradores vão para a cadeia. Nós, contemporâneos da barbárie nacional, na maioria das vezes elegemos os nossos bandidos para nos representar nos parlamentos e em outros cargos importantes.

E assim como “não dá em nada roubar e ser bandido no Brasil,” será que os assassinos do pobre morador de rua não agiram baseados nessa lógica perversa? Confiantes numa impunidade que também poderia ser estendida a eles?

No Mercado Público tivemos um linchamento que é apenas o crime de justiça com as próprias mãos, ou ainda, justiça desprovida de inteligência, ou brutalidade e barbárie. O velho oeste começa a se projetar em nós, não como um filme, mas como um sinal de embrutecimento da sociedade que já está cansada de tanta impunidade.

 

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