O PAPA É GAÚCHO

Gaúcho é quem nasce no pampa e o pampa, na concepção dos fundamentalistas do gauchismo, é esse imenso território que sem fronteiras políticas une o Rio Grande do Sul, o Uruguai e a Argentina. Assim é que, forçando um pouco, dá para se dizer que o papa é gaúcho. Não é uma verdade gentílica, mas é um consolo.

Jorge Mário Bergoglio é um jesuíta o que se torna uma novidade na história papal, pois jamais a Igreja Católica teve um papa dessa congregação polêmica e agressiva, mas que foi, em outros tempos, a organização religiosa que obteve as maiores conquistas territoriais para o Vaticano.

Os jesuítas foram os marines da Igreja Católica. Eram eles que chegavam junto com os conquistadores do Novo Mundo e que fincavam a bandeira de Jesus nas praias de um planeta que deixava de ser um mistério, fato que levou muitos cientistas à fogueira da Inquisição quando afirmavam que a Terra se movia e era redonda.

Mesmo sendo uma surpresa para quem torcia por Dom Odilo Scherer, o cardeal Bergoglio já fora o segundo mais votado por ocasião da sucessão de João Paulo II, em 2005. Seu nome não estava no ranking dos mais prováveis substitutos de Bento XVI, mas pela rapidez da votação ficou evidente o seu prestígio onde deveria valer de verdade.

Mais uma vez, os “especialistas” em Vaticano mostraram que mesmo com uma boa retórica e argumentação técnica, eles não sabiam de nada. O fundo da urna que trazia os votos do colégio eleitoral cardinalício continuará sendo uma surpresa, como deve ser o resultado de uma votação secretíssima e com uma liturgia de muitos séculos.

Vale destacar que o novo papa como cardeal de Buenos Aires tem uma posição conservadora a respeito do casamento gay, por exemplo. Ele foi um opositor duro da decisão argentina de legalizar o casamento gay em 2010, argumentando que as crianças precisam ter o direito de crescerem e serem educadas por um pai e uma mãe.

Sua nomeação como cardeal por João Paulo II ocorreu em 21 de fevereiro de 2001. Era arcebispo da capital argentina desde 1998. Nessa ocasião, houve muita alegria entre os católicos argentinos que logo formaram caravanas para a celebração do ato, em Roma. Bergoglio, então, persuadiu centenas de argentinos a não viajarem a Roma para celebrar com ele e, em vez disso, dar o dinheiro que seria gasto na viagem para os pobres.

A escolha do nome de Francisco I tem a ver com a sua simpatia pelos pobres, assim como São Francisco de Assis, o inspirador do seu gesto. Como cardeal, andava de ônibus e deixou de viver não palácio do arcebispado de Buenos Aires para viver num apartamento onde ele mesmo preparava a sua refeição.

Politicamente, como cardeal de Buenos Aires e chefe da Igreja Católica na Argentina, Jorge Mario Bergolgio, manteve uma posição crítica com relação ao governo de Nestor Kirchner. Segundo o jornalista Sérgio Rubin, do jornal “Clarin”, o presidente Nestor Kirchner achava que a maioria dos bispos argentinos, liderados por Dom Bergoglio, tinha uma posição de questionamento de seu governo.

Na opinião da Casa Rosada, a Igreja Católica nunca reconheceu tudo o que o presidente Kirchner fizera para tirar o país de uma de suas piores crises de sua história. Hoje, a relação de Dom Bergoglio com Cristina Kirchner é bem mais amistosa.

O que todos os católicos esperam do novo papa argentino é que ele seja mais Messe e menos Maradona.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.