O desejável e o real

Dilma foi à TV anunciar que alguns produtos teriam redução de preços, a fim de permitir melhores condições de consumo para os cidadãos. Claro que mais do que a ação de governo, está a tentativa de segurar a inflação, com tendência de alta e, mais, acima da média esperada para o período. Se alguns setores governamentais imaginam que seja uma sazonalidade inflacionária, a contundência de preços provou que não. Resultado: como diz o gaúcho, pegar o bicho pela cola, impedindo que a inflação dispare.
Na prática, o consumidor não deve sentir efeito integral de desoneração da cesta básica anunciada pela presidente. Pelo menos não de imediato. Os especialistas defendem que é preciso rever o chamado ambiente inflacionário.
Por causa desse cenário, o próprio governo começa a reavaliar o que considera como prioritário, apontando para a necessidade de reter o juro sobre a moeda ou reter esta última, o que, em tese prejudicaria a oferta de crédito. Daí, vem a elevação da meta da taxa Selic por parte do Banco Central aparece como a estratégia aplicável à situação.
A realidade, traduzida, evidencia nada mais próprio do sistema keynesiano, ou seja, uma estratégia que, traduzida do economês clássico, significa que é preciso garantir o pleno emprego da economia, mas sem excesso, pois isto provocaria um aumento da inflação. É nesse ponto que está o governo. Entre a cruz e a caldeirinha, pois já existe pressão de inflação, enquanto as atividades econômicas são vacilantes, incertas, pois há oscilação das bases.
Tomate e batata, por exemplo – conforme o consumidor santanense pôde perceber em quaisquer das casas comerciais – os preços aumentaram elasticamente. Nem o razoável resultado da indústria nacional serve como elemento, embora indique recuperação da economia como um todo – no impacto do Produto Interno Bruto, segundo as divulgações da Fundação Getúlio Vargas.
O dilema de Dilma é: se aumentar os juros para reter a inflação, retém o consumo, gerando uma escala decadencial que poderia gerar o aborto de todos os demais conjuntos nos nichos econômicos por efeito de consequência.
Assim, o governo abre mão de receita. Para os economistas em geral, segundo o que é possível assistir na televisão e ler nos jornais e revistas, é uma metodologia nada ortodoxa, ao contrário, sai do convencional nas aplicabilidades. Estabelece uma relação de troca com o mercado conjuntural: busca tirar o peso tributário de alguns produtos do cotidiano dos cidadãos, na cesta básica ao mesmo tempo em que propõe que o BC não eleve as taxas de juros. O foco é evitar, na verdade, a alta continuada de preços dos produtos e, com alguma sorte – com base na boa e velha lei da oferta e da demanda – buscar que os preços oferecidos sofram queda. É simples de compreender essa dinâmica do governo, porém, na prática, não há qualquer garantia de que os preços despenquem na proporção esperada pelo governo.
Ou seja, uma coisa é esperar que a batata tenha redução de preço de R$ 1,00 e, na prática, ante o mercado setorial, a redução seja de R$ 0,10 ao consumidor. É uma redução, de qualquer forma. Não a que o governo gostaria, mas é fática. Por isso, a incerteza no que se refere àquilo que o consumidor espera.
A dona de casa do Armour vai até o supermercado e espera que a desoneração seja integralmente e de forma proporcional repassada ao preço final. O governo também, mas o mercado permite que seja assim? Da mesma forma, o cidadão vai comprar em uma mercearia do Prado e deseja que o repasse tenha como resultado a queda de R$ 5,00 para R$ 3,00 – por aproximação –, mas ninguém pode garantir que seja assim. E se houver escassez desse produto? E se a produção registrar problemas?
Enfim. As variáveis são muitas.
Sem falar que na composição de custo de qualquer produto há alguns itens que sempre são onerosos. Tributos, claro. Mas e o preço do frete? A gasolina não subiu? E o diesel? Isso também impacta.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.