Romário e os caminhos do Mundial

Gosto de futebol, como a maioria do povo brasileiro. Pouco entendo de esquemas táticos; há um bom tempo não tenho ido aos estádios. Mas me agrada assistir na TV a uma grande partida; aplaudo as belas jogadas de bons jogadores. Sou da geração que viu Pelé nascer para o futebol na Copa de 58, na Suécia, e isso é quase predicado para currículo. Entre outros tantos craques que vestiram a camiseta da seleção brasileira, sempre admirei Romário. Pelo talento, pelos gols decisivos e também pela sua linguagem tantas vezes moleque e provocativa.

Pois Romário, hoje, é um homem de cabelos esbranquiçados, deputado federal pelo Rio de Janeiro e tem surpreendido a muitos com sua postura parlamentar e capacidade de argumentação. Veio a Porto Alegre, no início desta semana, acompanhado de outros colegas, também atletas, como Danrlei e Popó. Integram a Comissão de Turismo e Desporto da Câmara Federal e, nessa condição, participaram do Fórum Legislativo da Copa do Mundo.

Romário falou com cuidado e com clareza sobre Ricardo Teixeira e sua atuação como presidente da CBF: é a favor de uma CPI para investigar as denúncias que pesam sobre o principal dirigente do futebol brasileiro. Suspeita de lavagem de dinheiro e uso da CBF para benefícios pessoais é o mínimo que se diz nos bastidores do mundo do futebol. Haveria outros fatos escabrosos. ”Se as coisas que dizem sobre ele não forem 100% verdadeiras, vai ser melhor para o andamento da Copa do Mundo. Hoje, o povo tem uma desconfiança muito grande em relação a Ricardo Teixeira”, afirmou Romário.

Vamos convir: tudo é nebuloso demais em se tratando da Copa de 2014 no Brasil. Desde a CBF às obras de infra-estrutura. Até mesmo as informações dos organismos oficiais são desencontradas. O Portal da Transparência do governo, de responsabilidade da Controladoria-Geral da União, informa que a Copa vai custar R$ 23,4 bilhões, enquanto a Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) estima em R$ 112 bilhões o valor total.

Tem muita gente preocupada. O Ministério Público Federal advertiu no último final de semana, através do procurador Athayde Ribeiro Costa, coordenador do GT Copa, como é chamado o grupo de procuradores das cidades-sede, destacado para fiscalizar as obras e serviços do Mundial:

“Há grande risco em financiar obras com projetos falhos e sem detalhamentos. Isso porque o valor da obra será feito em estimativas aleatórias e futuramente serão demandados aditivos acima dos limites legais”. O GT Copa, por isso, decidiu ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade junto ao STF contra o famoso RDC, aquele que “flexibiliza” as licitações. Porque do jeito que as coisas andam, é possível que se repita o que aconteceu no Pan-Americano de 2007, no Rio de Janeiro: o orçado beirava os 400 milhões e o custo real acabou em mais de três bilhões, quer dizer, quase dez vezes mais.

O futebol alegre de Pelé, Romário, Neymar, Leandro Damião, entre tantos, e o povo que ama esse esporte, não merecem dirigentes como esses.

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