O FIM DO CAUDILHO

Hugo Chávez está morto e será sepultado nesta sexta-feira numa cerimônia que poderá se igualar aos funerais de ditador norte-coreano King Jong-il. Ditadores ou aprendizes que morrem no cargo recebem as mais vistosas e espalhafatosas cerimônias fúnebres. Já os que são depostos pela força e são forçados a deixar seus países morrem e são sepultados como seres normais.

Mas o que interessa agora é como ficará a Venezuela pós-Chavez? Chávez deixa seu país com um endividamento que aumentou no seu governo de 37% para 51% do PIB, o qual, segundo cálculos de entidades internacionais chega a 140 bilhões de dólares. Só não se fala ainda em calote por que a Venezuela é rica em petróleo, mas com falta de recursos para investir em novas prospecções na sua bacia petrolífera.

Como o regime bolivariano é fechado para auditorias em suas contas, a estatal de petróleo, a Petróleo da Venezuela S.A. (PDVSA), destinou mais de 100 bilhões de dólares a um fundo estatal administrado pessoalmente por Chavez e ninguém sabe para onde vai (ou foi) esse dinheiro.

A política socializante de Chávez espantou a iniciativa privada e seus investimentos caíram de maneira preocupante. Hoje a Venezuela importa comida e todos os outros bens necessários ao abastecimento do país e só pode contar com a receita de exportação do petróleo.

Hoje a produção de petróleo está em 3 milhões de barris por dia, a metade do que a PDVSA havia prometido extrair em 2012. Abalada por dívidas a estatal projetou para 2018 a produção diária de 5,8 milhões de barris, mas para isso precisará investir 200 bilhões de dólares nos próximos anos.

O trágico na morte de Hugo Chávez é que seu estilo de governar a Venezuela e de ganhar eleições só funcionava com ele pelo estilo caudilhista e pelos recursos que eram fartos pelo petróleo, distribuídos de maneira irresponsável na busca de parceiros para a implantação de uma América Latina Bolivariana.

Morto o caudilho fica uma Venezuela aparelhada pelos comparsas que deverão estabelecer uma luta secreta pelo poder. O vice-presidente Nicolas Maduro, ex-motorista de caminhão, um fantoche de Chávez, talvez não seja confirmado na presidência com a nova eleição dentro de 30 dias, que se transforma num ato cívico onde a oposição tentará vencer com seu programa de redemocratização do país.

Os partidários de Chávez usarão a imagem do caudilho como o grande eleitor ausente que precisa de seguidores para a continuação de seu sonho de ver a América Latina transformada numa grande Cuba. A Venezuela ainda vai sofrer muito.

NEGÓCIOS NÃO PARAM (1)

Todo o ódio destilado por Hugo Chávez aos EUA sempre foi uma encenação dialética que jamais prejudicou o principal negócio entre os dois países: a exportação de um milhão de barris por dia para o “seu inimigo imperialista”.

NEGÓCIOS NÃO PARAM (2)

Nos últimos doze anos, muitos atritos diplomáticos foram criados por Hugo Chávez, mas a relação entre o caudilho e os EUA nunca foi interrompida por força dos interesses econômicos vigentes.

O FUTURO

Ninguém arrisca uma previsão sobre o futuro da Venezuela. Em sociedades dominadas por caudilhos inimputáveis, a lealdade do povo está diretamente vinculada à figura do chefe supremo, por que tal sentimento não se liga às instituições e nem mesmo à ideologia. O perigo está quando morre o caudilho, pois morre também essa lealdade que não nasceu no respeito, mas no medo do próprio regime.

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