Três tempos da política

Mal terminou o carnaval e a política brasileira oferece um prato cheio para o comentarista. Pelo menos três episódios merecem registro. O primeiro é a reação popular, via redes sociais, contra Renan Calheiros. A sua posse, com o respaldo da enorme votação que recebeu dos colegas senadores, foi bem mais do que um deboche. É prova de que eles estão muito pouco preocupados com o que pensa a população, sempre passiva diante das reiteradas máculas na reputação dos congressistas.

Não sei, não, mas creio que eles deveriam se preocupar, sim. O manifesto que circula na internet havia atingido, na útlima terça-feira, mais de um milhão e seiscentas mil assinaturas. Pode até ele ser inócuo, como ouvi de um cientista político, por faltar-lhe amparo jurídico para uma ação mais consequente – impeachment, por exemplo – mas é um julgamento moral que pode não ficar restrito a um ato apenas. 

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Tenho simpatia pela ex-senadora Marina Silva, um pouco pelo seu aspecto frágil de nordestina, muito pela ação que tem desenvolvido em favor das causas ambientalistas. Fez uma bela campanha presidencial pelo Partido Verde, em 2010, quando alcançou uma votação fantástica de mais de 20 por cento dos votantes. Embora negue, dizendo não ser esta a sua prioridade, é quase certo que ela insistirá com nova candidatura à Presidência, em 2014. E, para isso, acaba de criar mais um partido, chamado Rede da Sustentabilidade.

O nome é estranho e um novo partido não parece ser o ideal, mas o que mais chama a atenção é a forma como ela não o definiu: a Rede não será de situação nem de oposição, nem é de direita, nem de centro, muito menos de esquerda. Lembra a fundação do PSD de Gilberto Kassab. Foi exatamente assim, sem definição ideológica, que ele anunciou a criação do partido que se prepara agora para integrar o ministério de Dilma Rousseff. Era esse o norte do PSD: o governo. 

Está confirmada a denúncia da imprensa. A própria Secretaria-Geral da Presidência da República, chefiada pelo ministro Gilberto Carvalho, o homem forte de Lula no governo, admitiu que o seu funcionário Ricardo Augusto Poppi Martins, esteve, sim, na embaixada de Cuba. Lá, junto com militantes do PT, do PcdoB e da CUT, participou de uma reunião com o embaixador cubano, Carlos Zamora Rodríguez.

O diplomata informou que a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez – famosa por ser uma voz de denúncia do regime dos irmãos Castro, ouvida no mundo inteiro – seria monitorada em sua visita ao Brasil. Quer dizer, seguiriam seus passos e daí o recrutamento dos militantes de partidos e organizações contrárias à liberdade de Cuba. O plano também previa a desqualificação da blogueira.

É o que está acontecendo. Onde vá, ela tem sido recebida pelos abraços de simpatizantes, mas também por grupos organizados que a vaiam e a acusam. Yoani lastimou:

- Eu trouxe ideias e eles só trouxeram palavras de ódio.

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