Livros, leitores e ladrões

Está ao alcance de qualquer pessoa, por mais humilde que seja, desde que saiba ler, pegar um livro e ir sentar num banco da praça à sombra das árvores.
Mas não está ao alcance de todos, até por uma questão de tranqüilidade e segurança, pegar o seu leitor eletrônico e fazer a mesma coisa. Quando muito poderá fazê-lo dentro de casa ou no pátio cercado de grades de um condomínio residencial. Fora disso, a utilização de qualquer aparelho eletrônico mais sofisticado em lugar público, que não seja um inocente radinho de pilhas ou um celular, poderá despertar a cobiça e o desejo de furto. Talvez seja essa uma das razões porque não funciona ainda no Brasil a captação gratuita da internet em locais públicos, como já acontece nas praças do Uruguai, onde a polícia não dá moleza para os amigos do alheio.
Pois a segurança justamente é uma das grandes vantagens do livro tradicional, com toda a sua humildade em relação às invenções que pretendam substituí-lo. A sua natural auto proteção anti-roubo ficou comprovada com a excelente iniciativa da Livraria Marco Zero e de algumas instituições culturais de nossa comunidade em colocar livros nos bancos das praças com toda a liberdade para serem lidos e até levados para casa e depois devolvidos por quem quisesse. Aliás, as palavras ‘livro’ e ‘liberdade’ têm muito a ver.
Antigamente, roubar livros era coisa chique. Ladrão de livros era gente fina. Não era como estes ladrões do congresso nacional que se sujam por roubar dinheiro. Antigos intelectuais cleptomaníacos costumavam roubar livros nas bibliotecas ou livrarias e levá-los para casa em baixo do casaco, muitas vezes com a complacência dos próprios livreiros que fingiam não notar para não perderem o cliente e o amigo. Mas esse hábito salutar de roubar livros foi diminuindo pela escassez de leitores e intelectuais. E hoje ninguém mais rouba livros de papel. Eles não proporcionam nenhum lucro financeiro aos ladrões. Apenas o prazer a quem gosta de ler. E o gosto pela leitura é uma coisa que também diminuiu bastante.
Atualmente os instrumentos eletrônicos de leitura ou de audição de leitura são os mais diversos. Num pequeno artefato eletrônico digital chamado ‘tablet’ podem ser armazenados muitos livros, e quem quiser, durante uma viagem, escutar uma leitura com um fone de ouvido, pode utilizar um MP3 do tamanho de um isqueiro ou de uma caixa de fósforos. E nessa mesma linha de aparelhagem, no momento em que escrevo isto, estão surgindo no mundo as últimas novidades.
Mas enquanto formos seres humanos de carne e osso, feitos de células, tecido orgânico, dotados de um cérebro animal natural, raciocínio, inteligência, idéias e emoções — ou seja, enquanto não formos transformados em robôs — podemos até nos valer de algumas das invenções eletrônicas da ciência pós-moderna e da tecnologia digital, mas nada substituirá, por sua antiguidade, economia e praticidade, o livro de papel.
Luciano Machado

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