UMA VÍTIMA DO PUXA-SAQUISMO ROMANO

O puxa-saquismo é uma doença muito antiga. O puxa-saco é parente próximo do capacho e do “pelego” e, como aqueles, gosta de adular principalmente o seu patrão, chefe ou superior hierárquico ou defender a categoria econômica, religiosa ou política a que serve como sabujo mal pago.

Quando um puxa-saco sai em defesa do seu chefe, patrão ou verdugo, temos que sair de perto, pois é capaz de brigar com unhas e dentes pelos interesses a que vive subjugado.

Bom farejador e oportunista, o puxa-saco é traiçoeiro, gosta de fazer intrigas e vai metendo o bedelho em qualquer assunto até onde lhe permitirem. E se alguém não lhe para o carro, ele discute, bate o pé e periga subir pra cima da mesa.

Por sua arrogância e intransigência o puxa-saco não aceita nem respeita opiniões contrárias àquilo de que faz apologia, salvo se esta opinião contrária venha de parte do seu irrepreensível, irretorquível e venerável chefe maior.

Por isso é difícil manter com fundamento um debate quando dele participa um sôfrego puxa-saco à espera de uma oportunidade para meter a pá no assunto e de algum modo o conduzir no sentido de puxar brasa para o assado do seu patrão ou da classe de que é subalterno.

Uma época em que o puxa-saquismo proliferou foi durante a Roma antiga, sob o governo de Nero e de outros imperadores.

Acostumado com a baixeza de seus cortesãos e aduladores, que viviam fazendo intrigas e tentando engolir uns aos outros, Nero subestimou a integridade de Caio Petrônio, seu conselheiro para assuntos sociais e de etiqueta, e acreditou nas mentiras do invejoso Tigelino, chefe da guarda pretoriana, que veio com a conversa de que Petrônio conspirava contra o governo. Tão logo tomou conhecimento desse chisme, Nero expediu uma ordem de que Petrônio fosse avisado que se tornara uma pessoa não grata ao império.

Ao ser notificado da sentença, Petrônio resolveu escrever uma carta ao imperador onde lhe dizia tudo o que pensava a seu respeito – que era mau artista, que tinha uma péssima voz, que era um vaidoso, um fraco e se deixava enganar pelo falso elogio das víboras que o cercavam, que eram seus puxa-sacos e aduladores.

E antes que Nero viesse pessoalmente lhe entregar um punhal para que se matasse, como já o fizera com outros, Petrônio tomou a iniciativa de se suicidar.

Luciano Machado

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