RENÚNCIA POLÍTICA

Bento XVI justificou a sua renúncia alegando o peso da idade e como ele mesmo afirmou “eu sou um papa velho”. Pelo menos nos últimos 600 anos nenhum papa renunciou por estar velho e cansado e muito menos por estar doente. Se assim fosse, João Paulo II teria renunciado e motivos de saúde não faltavam ao simpático antecessor de Bento XVI.

João Paulo II já não podia mais esconder a dificuldade de seu estado de saúde nas aparições públicas quando o Mal de Parkinson era visível e reconhecido por todos. Também as longas viagens de João Paulo II deixam o Sumo Pontífice abalado e esgotado para suas atividades diárias.

A renúncia de Bento XVI foi política e teve como objetivo abortar (e o termo é este mesmo) os planos conspiratórios dentro da Vaticano chefiado pelo cardeal Tarcísio Bertone, uma espécie de Zé Dirceu da Santa Sé.

Bento XVI sabia que estava perdendo poder como chefe da Igreja Católica quando notou que suas determinações não eram cumpridas pelo cardeal Bertone, especialmente nas que se referiam à tolerância zero contra a pedofilia e negociatas dentro do Vaticano.

No caso de pedofilia, Bento XVI tomou conhecimento da gravidade do caso pela imprensa e pelas ações na Justiça contra as arquidioceses de Boston e Los Angeles. O cardeal Bertone custou a aposentar o cardeal Roger Mahony e seu auxiliar o bispo Thomas Curry, ambos da arquidiocese de Los Angeles.

A “punição” só veio a se efetivar depois que a Justiça da Califórnia exigiu a divulgação de documentos confidenciais sobre 122 padres envolvidos com pedofilia contra 500 jovens. Os dois religiosos – Mahony e Curry – foram afastados de suas funções e “aposentados” pelo Vaticano.

Outro caso que deixou Bento XVI magoado foi o do cardeal Carlo Maria Vigano, que alertou o papa sobre suspeitas de corrupção nos contratos do Vaticano. O caso chegou até a imprensa italiana. Imediatamente, Bertone decidiu nomear Vigano como núncio nos Estados Unidos.

Ao renunciar, Bento XVI desloca o poder mantido por Tarcísio Bertone e praticamente inviabiliza sua candidatura como sucessor do papa. Nos últimos 600 anos, toda a sucessão papal se deu por morte do titular da Santa Sé. A de Bento XVI será inédita em seis séculos.

O papa que deixou o poder estará vivo e mesmo que se mantenha em silêncio, Bento XVI será uma sombra para o cardeal Tarcísio Bertone e isso complicará muito as manobras políticas para a sua eleição.

O DISTANCIAMENTO

O cardeal Tarcísio Bertone só não tinha mais poder que o papa por uma questão hierárfquica, mas era ele quem comandava administrativamente a Igreja Católica em todo mundo. Quando Bento XVI percebeu que muitas de suas ordens eram adiadas ou mesmo não cumpridas estabeleceu-se um distanciamento que até os corredores silenciosos do vaticano perceberam.

O MORDOMO (1)

Paolo Gabriele era o mordomo do papa. Privava da intimidade de Bento XVI e por isso mesmo tinha acesso até aos documentos confidenciais do Sumo Pontífice. Quando esses documentos foram furtados, a culpa recaiu sobre Gabriele que foi condenado a 18 meses de prisão.

O MORDOMO (2)

Mesmo assim, Paolo Gabriele foi perdoado e indultado pelo papa. A notícia do indulto foi dada pelo porta-voz do Vaticano. “Num gesto paternal, o papa visitou Gabriele para confirmar seu perdão, anunciar o indulto e o fim de sua prisão”, disse o porta-voz. Bento XVI sabia que Gabriele não fizera aquilo sozinho. Por trás estaria o cardeal Tarcísio Bertone.

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