Quando os políticos não se ajudam

O que é mais indecoroso na eleição de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves para a presidência do Senado e da Câmara Federal?

Escolha, leitor, a opção que lhe parecer mais adequada:

1 – É a escolha em si, de dois parlamentares sobre os quais pesam acusações severas de corrupção e malversação de dinheiro público. Renan é aquele mesmo que tinha uma amante, a jornalista Mônica Veloso, e com ela um filho e cuja pensão era paga por empreiteira, com dinheiro vindo de obras públicas.

2 – A composição da mesa da Câmara, integrada, além de Henrique Alves, por Maurício Quintella (PR-AL) e Hidekazu Takayama (PSC-PR), ambos respondendo a ações no STF por peculato.

3 – O discurso de Renan Calheiros, defendendo a ética como meio e não como fim. E sua conclamação para “a união de todos pelo bem comum”, para o “patriotismo” e o pedido de uma “benção de Deus”.

4 – A foto de Renan subindo a rampa do Congresso Nacional para a abertura do ano legislativo, sob o protesto e o xingamento de populares, que o chamavam de “safado”, “sem vergonha” e “ladrão”.

5 – As ameaças de Henrique Alves de que vai colocar em votação projetos que incomodam o governo, ele que foi eleito com o aval do Planalto.

Pode-se optar por mais de uma das hipóteses, afinal nada disso parece importar à grande maioria de deputados e senadores que os escolheram.

Mais que indecorosa, é preocupante a declaração do novo presidente da Câmara Federal de que não vai cumprir a decisão do STF que determinou a cassação automática dos quatro deputados condenados no julgamento do “mensalão”.

Ele produziu uma frase de efeito:

- Não se esqueçam que aqui nesta Casa só tem parlamentar abençoado pelo voto popular deste imenso Brasil.

Frases bonitas à parte, esse é um enfrentamento que não interessa ao país.

O presidente do STF, Joaquim Barbosa, foi cauteloso, ao ser indagado sobre a manifestação da Câmara:

- No Brasil, qualquer assunto que tenha natureza constitucional, uma vez judicializado, a palavra final é do Supremo Tribunal Federal. 

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Convenhamos que os políticos brasileiros não se ajudam para melhorar a imagem perante a opinião pública.

De nada adianta Henrique Alves proclamar que o Parlamento “é o mais atacado dos Poderes porque é o mais transparente”.

Nem isso é tão verdade – o Poder Executivo é, regra geral, o mais criticado dos Poderes – nem uma coisa exclui a outra. O fato de a Câmara ser transparente não pode justificar comportamentos inidôneos dos membros da Casa. 

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Decepcionado com a política, Tiririca, o mais votado deputado do país em 2010, anunciou que não vai mais concorrer à Câmara Federal, na busca de um novo mandato.

Informa que aprendeu muito durante esses dois anos:

- Aqui é uma escola. Aprende-se tanto a ir para o caminho legal quanto ir para o “outro caminho”.

Nunca foi convidado para o “outro caminho”, está satisfeito com o que viu, prefere voltar a ser palhaço.

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