Esse é o Brasil

“Y se hacen los que no aciertan a dar com la conyuntura, mientras al gáucho lo apura con rigor la autoridá, ellos a la enfermedá andan errando la cura.”
(J. Hernández)

Quem viveu na época das salvas de artilharia em pleno centro da cidade, sabe o quanto isto era daninho e prejudicou a saúde auditiva humana e animal, e quantas rachaduras causou em muros, estruturas, paredes e vidraças , por seus impactos e ressonâncias.

Os prejuízos materiais causados aos prédios de alvenaria da cidade nunca foram devidamente apurados nem ressarcidos, nem os danos causados à saúde da população, como os casos de surdez e doenças nervosas, apresentados algum tempo depois.

Mas a impunidade quanto a estes e outros estragos ficou por conta dos tempos de chumbo e da imunidade do regime de exceção do governo militar.

Outra coisa igualmente danosa eram as revoadas ocasionais de aviões militares a jato sobre a cidade, rasgando como um trovão o espaço aéreo, assustando meio mundo e prejudicando principalmente as criaturas indefesas: os enfermos, as pessoas idosas, os animais e as crianças pequenas.

Hoje vivemos numa democracia civil e não temos mais os tiros ou salvas de canhão no centro da cidade nem o barulho aéreo dos aviões militares.

Mas se as antigas salvas comemorativas dos canhões de artilharia e o ocasional barulho dos aviões militares sobrevoando a cidade incomodavam, hoje foram substituídos por algo pior, em caráter permanente: a indústria do barulho automotivo, das descargas abertas, dos retumbantes “tum, tum, tum” e da alta sonoridade a que todos se submetem sem poder fazer nada, com a complacência do poder público e das autoridades, como convém ao império do caos, da impunidade, da permissividade, da licenciosidade, da balbúrdia e da calamidade atuais, de um país com leis injustas, com leis que não se cumprem, com leis que não se aplicam, deixando impunes os verdadeiros inimigos da sociedade, da ordem pública, da paz e da tranqüilidade, em detrimento e prejuízo do cidadão correto, que vive em silêncio, que não incomoda ninguém, que trabalha e paga rigorosamente seus impostos.

E quando um pobre faminto e desempregado rouba um alimento, digamos um pão, uma fruta ou um pacotinho de charque de menos de meio quilo, por insignificante que seja o seu valor, como foi um caso recente, é apontado como ladrão, preso, exposto publicamente, identificado, multado e tratado como se fosse um criminoso.

Vejam a que ponto chega o rigor da autoridade com os pobres e desvalidos e a falta de critério de justiça social do poder público, perseguindo, prendendo e multando não aquele que deve ser perseguido, preso e multado, mas o infeliz que não tem o que comer nem onde cair morto.

Luciano Machado

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