Consciente coletivo

Imprudência e irresponsabilidade, via de regra, talvez fossem as melhores definições em sinônimo para trânsito em Sant’Ana do Livramento. Há uma pequena parcela de condutores de veículos que busca cumprir com o que a legislação estabelece, utiliza o princípio de direção defensiva, mantém a prudência como aliada da coerência, evita o estresse dos recalcados e revoltados, não “se acha” porque conduz um veículo melhor do que o daquele com quem compartilha a via. Essa minoria tampouco se acha dona da via, considera-se usuária de forma normal e evolui regradamente pelos espaços disponibilizados pela sinalização existente, mantendo o zelo principalmente nas áreas onde não há pintura ou qualquer tipo de sinais. São aqueles que somente acabam envolvidos em acidentes por situações muito raras, como uma inesperada falha mecânica ou a imprudência de outrem.

Ah, jamais consomem bebida alcoólica antes de conduzir um carro ou uma moto. Buscam valorizar a vida, a sua e a das outras pessoas, além de estarem constantemente informados sobre o cotidiano de trânsito.

Compartilhando a mesma via, há quem não tenha formado essa índole, deixando de lado preceitos como cavalheirismo, educação, comportamento, enfim. Fazem sinais obscenos a todo instante, acham-se donos das ruas, circulando da forma como querem, como bem entendem, no trecho de rodovia, no paralelepípedo, pedra irregular ou caminho embalastrado. Assim procedem porque, independentemente do caminho, têm uma equivocada compreensão de que são os outros que devem ter o cuidado e não eles.

É, realmente, digna de análise mais aprofundada, dentro de uma metodologia científica, essa faceta de personalidade transformada (ou transtornada?) no trânsito. O pior é que as pessoas que agem dessa forma fazem questão de não perceber a obviedade de que suas atitudes colocam sob risco a si própria, os que amam e, especialmente, aqueles que não têm absolutamente nenhuma relação com elas, exceto compartilhar uma via pública de circulação durante determinado tempo; o suficiente para ser partícipe – ou, na maioria das vezes, a causa – de insólitos que ceifam vidas.

É justamente essa maioria que traduz o incomum como regra, oferecendo o fortuito como elemento comum. Aí estão os resultados efetivos, quantitativos, de todas essas posturas pessoais divergentes. O “comigo não acontece” é o conceito, frágil e inconsequente, mais praticado pelos entendimentos dos condutores de veículos que integram à maioria referida.

Para a minoria, sobra a tentativa de fazer com que sejam revertidos esses posicionamentos; permanece o desejo de que esses lugares-comuns deixem de fazer parte do contexto diário. Mas, depende das pessoas. Dessas pessoas que integram a maioria.

Das que ultrapassam pela direita em suas motos, potentes ou capengas.

Das que não dão sinal de seta para fazer qualquer manobra.

Das que não conhecem preferenciais ou sequer tomam conhecimento de limites de velocidade.

Das que se entendem como donas das ruas.

A mudança desejada está essencialmente no íntimo dessas pessoas integrantes de uma maioria que, apesar das inúmeras campanhas e apelos, não alteram seu posicionamento quando estão conduzindo pelas vias da cidade.

Fundamental que aprimorada fosse essa convivência, mesmo que o compartilhamento das vias durasse apenas um minuto ou fosse, única vez, durante alguns segundos do dia.

Este espaço não é dedicado apenas às vítimas, mas à minoria.

Há a torcida para que a modificação do consciente individual seja, de fato, real, efetiva e, principalmente, coerente. Isso modificaria o consciente coletivo.

 

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