Entrando nos trilhos

Só falta o trem. A Estação Ferroviária de Livramento, espaço nobre que inspira a reflexão e a homenagem a um passado vigoroso e pujante, traduz, renovada, a esperança de que mais notícias positivas passem a fazer parte do cotidiano dos santanenses. A inauguração do espaço, reformado – mas, com simplicidade, preservado em sua essência de antiguidade – também pode ser entendida sob outro ponto de vista ou outro pensamento.
A figura simbólica a que se pode fazer referência é o resgate da autoestima dos locais – natos e de coração – no que tange a compreender que é possível. É possível realizar, mudar, transformar, empreender, melhorar. Algo que neste espaço várias vezes foi reafirmado não com base tão somente na convicção, mas na confiança de que a cidade merece, a população merece. Chega de sofrimento! Chega de atraso! Chega de décadas de mesmice!
Metaforicamente, é como se Livramento, enquanto município, enquanto comunidade, estivesse saindo de um desvio e entrando nos trilhos, ante a compreensão de que somente a união de esforços entre os cidadãos, independente do cargo ou função que ocupem, pode transformar a realidade para melhor. Isso também já foi afirmado centenas de vezes aqui.
O sonho do ex-vereador Sérgio Moreira, que ganhou trenzinho de presente, motivo pelo qual recebeu chacotas, que foi criticado com veemência em alguns locais e setores da sociedade, que foi alvo de inúmeros comentários, começou a se transformar em realidade. A redenção de Moreira enquanto político?
Não. Tão somente uma convicção de um cidadão que, já tendo ocupado funções públicas e cargos políticos, usou essas condições da forma como entendeu melhor. Ganhou dinheiro com isso, sendo pago como vereador para executar um trabalho legislativo, usou diárias para viajar. Correto. Mas, hoje apresenta o retorno, mesmo não tendo mais mandato.
Merece o desagravo, sim.
Talvez tenha errado em não dedicar seu tempo a outras causas, seja no Planalto ou no Armour, duas de suas bases eleitorais. Talvez tenha errado em outras oportunidades e atitudes, mas afastando-se essas possibilidades, é a prova viva de que a Livramento que todos os cidadãos desejam pode se tornar possível.
Quem, há pouco mais de dois anos, imaginaria que a corroída Estação Ferroviária de Livramento pudesse ser revitalizada em seus 102 anos de existência?
Moreira imaginou.
Correu atrás. Fez esforços. Ousou e conseguiu.
Se Ronaldo Custódio é o nome da energia eólica e dos parques em Livramento, Moreira é o nome da ferrovia e do trem turístico – que ainda deve apitar na curva da esperança.
Moreira não é um herói. Não é um vulto.
É um cidadão santanense. Fez sua parte. Sonhador que rompeu em relação a outrem, pela persistência, perseverança quase obsessiva, pela resistência, a barreira da instransponível pavonice da vaidade que impera em alguns setores, trocando-a pela serenidade que a convicção inspira. Merece o reconhecimento e os elogios.
Poderia fazer mais? Até que sim. Sob os mais variados pontos de vista. Mas escolheu não pluralizar sua ação. Foi focado, específico.
Está consignada a prova material de que os homens e mulheres públicos têm obrigação com suas comunidades, com mandato ou sem. É uma lógica que precisa ser aprendida por quem quer exercer o poder. Na política essencialmente. E fora dela.
Talvez o parlamento santanense tenha perdido um aguerrido sonhador quando Moreira não se elegeu, mas certamente a comunidade ganhou um cidadão que projetou nos trilhos uma perspectiva, a qual vai continuar ajudando a encarrilhar, mesmo sem mandato eletivo, uma probabilidade para sua cidade.
Esse é seu merecimento. E o exemplo a ser seguido.

Notícias Relacionadas

Os comentários são moderados. Para serem aceitos o cadastro do usuário deve estar completo. Não serão publicados textos ofensivos. A empresa jornalística não se responsabiliza pelas manifestações dos internautas.

Deixe uma resposta

Você deve estar Logando para postar um comentário.