Quem se atreve à vida pública?

É compreensível que tantas mulheres e tantos homens preparados fujam da vida pública.
Quantos há que nela ingressaram, com verdadeiro espírito público e terminaram por deixar o cenário político, decepcionados com o intrincado jogo de interesses subalternos e nada republicanos?
Esperava-se que o julgamento do “mensalão” pelo Supremo Tribunal Federal, além de punir os responsáveis pelos desvios de dinheiro público, tivesse algum efeito pedagógico. Quer dizer, que servisse de exemplo e quem sabe de estímulo àqueles desejosos de contribuir com a causa pública.
A realidade é outra.
São candidatos à presidência do Senado Federal e à Câmara dos Deputados os senhores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
E tanto quanto garantem os acordos políticos, ambos estão já escolhidos.

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Quem são os dois ungidos pelas forças que apóiam o governo federal?
No último fim de semana, tornou-se pública informação pouco conhecida sobre o sr. Henrique Eduardo Alves. Um de seus assessores, Aluizio Dutra de Carvalho, é sócio da empresa Bonacci Engenharia. E a Bonacci, por coincidência, foi beneficiada com uma série de contratos resultantes de verbas orçamentárias liberadas pelo deputado Alves.
Como se sabe, cada parlamentar tem direito a R$ 15 milhões de emendas do Orçamento da União, direcionadas para municípios e áreas de seu interesse.
Na segunda-feira, soube-se que, além das verbas dessas emendas, a Bonacci recebeu pelo menos R$ 1,2 milhão de um órgão do governo controlado politicamente pelo deputado.
O sr. Aluizio pediu demissão no mesmo dia, para não atrapalhar a campanha do candidato à presidência da Câmara.

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Renan Calheiros tem um longo currículo.
Três vezes eleito senador da República, foi envolvido, em 2007, quando ocupava a presidência do Senado, por um rol infindável de denúncias.
Tudo começou com a descoberta, pela imprensa, de um fato insólito: a empreiteira Mendes Júnior pagava uma mesada de R$ 12 mil à jornalista Mônica Veloso, ex-amante de Renan e com quem ela tivera um filho.
A partir daí, soube-se muito mais: a compra de emissoras de rádio em nome de laranjas; tráfico de influência junto a uma empresa de bebidas; uso de notas fiscais frias para justificar seus rendimentos, etc.
Senadores fizeram seis representações contra ele junto ao Conselho de Ética da Casa, pedindo sua cassação. Em novembro daquele ano, ele renunciou à presidência, para não perder o mandato.
Agora, uma pequena nova denúncia: nos últimos quatro anos, ele repassou R$ 117 mil da verba de gabinete para o pagamento do aluguel de seu escritório político em Alagoas. O imóvel é de propriedade de seu suplente, Fábio Lopes de Farias.

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Como pretender que homens e mulheres do bem convivam com essa realidade tão escandalosa?

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