Algo que precisa ser dito

No início dos anos 2000 – lá por 2003, provavelmente, se a memória não é falha – cancelaram o Carnaval. Com muito esforço, no ano seguinte, a folia popular foi para a João Goulart, combatendo, inclusive, o descrédito que sempre pairou sobre o segmento por culpa e irresponsabilidade de uns poucos. Foi o carnaval do possível, do realizável e a comunidade foi para a “faixa”, participou das muambas no triângulo do samba. Foi o carnaval da ousadia, com parcos recursos, muito boa vontade de cidadãos e funcionários públicos municipais, lideranças setoriais e, ainda pairando o descrédito perante o empresariado – cuja negativa em investir é histórica.
Depois disso, o evento evoluiu, cresceu comparativamente a sua retomada em 2003, gigantescamente. Ousou retomar os grandes desfiles, a peso de dinheiro e sacrifício. Projeto e patrocínio.
Evoluiu e chegou a uma condição que, imaginava-se, era de estabilidade. De 2006 para cá, a palavra mais ouvida – a exemplo de outros setores da comunidade – era projeto. De fato, projetos ajustados foram levados a efeito, com a valorização da entidade que representa as escolas de samba.
De um momento para outro, no galopar dos anos, a Liga Independente das Escolas de Samba retoma sua dependência, passando de uma condição positiva e respeitada para cair, novamente, no descrédito de não poder realizar o evento. Buscou as iniciativas privadas, primeiro de um empresário de Uruguaiana. Não deu certo. Outro denominado investidor. Não deu certo pois gerou dívidas até hoje sendo pagas. A Liga, que acenava com um projeto de profissionalização, involuia, preterindo a realização ao discurso. Cercada de mistérios e buscando o mínimo contato possível com os veículos de comunicação, fez uma trajetória que culminou com o pedido de desligamento de seu presidente no ano passado. Colhendo mais tempestades do que bons ventos, a entidade rumou para um naufrágio no mesmo barco que sua antecessora – uma associação de entidades.
O problema é sempre o mesmo: dinheiro. Ou melhor, a falta dele. Dinheiro seria a solução. Esforço há, tentativa há. Abnegados existem. Falta profissionalismo. Falta união.
Sempre existiu uma tentativa de transferir todo o custo para a municipalidade. Raro foi o prefeito que aceitou.
O problema não é dinheiro ou a falta dele. O problema divide-se em muitas variáveis as quais, somadas, constituem na incerteza, no descrédito, na falta de credibilidade. Analise-se. Há pessoas críveis, interessadas, trabalhadoras, dignas de toda a confiança, cumpridoras dos acordos e que entregam o que vendem, ou seja, apresentam o produto que oferecem em troca de patrocínios. Esses pagam por aqueles que não agem assim. Tentam provar que é possível fazer o trabalho sério e competente, mas esbarram na inatividade dos que esperam tudo de mão beijada.
Há disparidade na proporção entre os que trabalham e os que trabalham pouco e destes em relação aos que nada fazem em termos de carnaval. Isso é lógico.
A hora não é de procurar culpados. A Liga é a representação de todas as escolas de samba de Livramento e, portanto, entidade máxima do Carnaval. Quem deve decidir os rumos dela, enquanto entidade, é justamente cada um dos que fazem o Carnaval com seriedade. É pela omissão dos bons que os nem tão bons tomam conta.
Cancelar o Carnaval de 2013 foi uma decisão válida. Plena. Serve como alerta de que é preciso mudar. Afinal, é sabido e notório que carnaval tem todo o ano. Dos 365 dias, quatro são de carnaval. Óbvio que, com competência, dá para fazer o evento crescer sem as paradas a cada período. Dá para manter o evento como tal, vendendo-o como tal. Como evento, crível.
Muito bem dito! A culpa é do pierrot, da colombina. Ponto. Siga-se adiante. É preciso mudar as mentalidades. Evoluir em entendimentos e compreensões. Não apostar na falácia e na promessa. Não virá o super investidor nunca para salvar a pátria folia.
Fica a lição.

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