Dor coletiva

As horas passam, os dias se sucedem, os meses ficam para trás… Mas parece que a cultura coletiva não muda. O trânsito continua ceifando vidas e deixando um rastro de tristeza, de dissabor, de desesperança… E de preocupação. A morte, na madrugada de ontem, de mais um jovem santanense, que saiu de casa para se divertir e, infelizmente, não mais retornará para o convívio dos familiares e amigos, deveria, como vários outros casos, causar um “tranco” no espírito coletivo que servisse para tirar a sociedade do comodismo, da zona de conforto que não permite as ações necessárias para a mudança que se quer, que o futuro precisa. Acidentes acontecem, é verdade. São situações fortuitas, também é verdade. Ninguém planeja um fato extremamente lamentável como o que aconteceu na noite de ontem, mas também é preciso ter consciência de que, de uma forma ou outra, talvez até essa perda pudesse ter sido evitada. Como, por exemplo, providenciando o conserto das condições de trafegabilidade nas vias públicas, para que os veículos – principalmente motos – circulem com maior segurança. Não se sabe exatamente que tipo de causa teve o acidente que vitimou o jovem na madrugada de ontem, mas uma das possibilidades é realmente a de que ele tenha perdido o controle da moto ao cair em um buraco na Avenida Saldanha da Gama. Quem circula por ali, e já constatou a realidade naquele trecho, não pode em absoluto discordar dessa assertiva. Mas é uma situação que ainda deve ser devidamente esclarecida. Importante, passada a lamentável ocorrência, é que essa situação leve o cidadão a pensar a respeito. A violência com que o trânsito tem causado tristezas à população certamente poderá, no mínimo, ser reduzida. Essa, na verdade, tem sido a essência das políticas públicas para a mobilidade em todo o País. Mas, lamentavelmente, muitas vezes a sociedade prefere se posicionar contra essas medidas, por entender que se trata de ações destinadas exclusivamente a tirar dinheiro do cidadão, através das multas e outras sanções aplicadas aos motoristas. Pior, ainda: por incrível que pareça, alguns chegam ao cúmulo de reclamar da realização de blitzes para o controle no trânsito, através da verificação das condições de trafegabilidade dos veículos – e dos motoristas –, além do cumprimento das obrigações regulamentares e legais. Está certo que incomoda, atrapalha um pouco a quem está com pressa, enfim… E igualmente causa desconforto aos esquecidos ou àqueles que optam por pagar outras despesas em detrimento das obrigatórias com relação ao licenciamento do veículo no qual trafegam. Mas, tirando isso, a blitz possibilita, sim, que se retire das vias ou force os motoristas em situação irregular a recuperar as condições plenas de direção. Isso sem falar na importância que o veículo tem para a prática criminosa. Já foi definida, por exemplo, a ação dos “motoassaltantes” como “crime sobre rodas”. Efetivamente, o carro ou moto têm vários papéis no trânsito brasileiro. Servem como instrumentos para agilizar o progresso, utilizados para o transporte de produtos e profissionais; servem como elemento de ligação social, transportando de um lado a outro pessoas da mesma família, amigos, conhecidos que estreitam seus laços de relação social; servem ainda como um braço importante do serviço público, na forma de ambulâncias, viaturas da segurança, bombeiros, entrega de correspondências; e servem, finalmente, como instrumento de lazer – para muitos, um lazer tranquilo, no sentido de chegar ao local de encontrar amigos, relaxar, enfim. Mas também há aqueles para os quais o veículo, moto ou carro, acaba se transformando, em si próprio, no elemento do prazer, materializado na velocidade, no risco, na adrenalina… E aí entra em cena um outro dado importante: as estatísticas lamentáveis, que comprovam que direção na combina muito com a adrenalina da diversão provocada pelo álcool e outros tipos de estímulo. Exatamente por isso é importante reconhecer e valorizar o trabalho feito nas blitzes e outras operações de fiscalização no trânsito. Controlar, nesse sentido, passa a ser uma forma de proteger, de demonstrar amor ao próximo, de prevenir, a fim de evitar a dor que caminha ao lado do risco e da adrenalina no trânsito. Tudo com o objetivo de evitar, mais tarde, um sofrimento que não é só de familiares e amigos, mas acaba se tornando a dor de toda uma coletividade.  

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