Santanenses enfrentam perigo constante em viagem de compras

Comerciante relata as situações de risco e violência pelas quais passou no trajeto rumo ao Paraguai

Caminho que leva turistas de compras até o Paraguai, reserva muitos perigos pela estrada

A notícia da turista do Rio Grande do Sul que, após ser baleada na Ponte da Amizade, veio a falecer em um hospital de Foz do Iguaçu, repercutiu em toda a mídia nacional. Para alguns fronteiriços que periodicamente viajam até Ciudad Del Este para realizar compras, trata-se de mais um crime dos quais já estão acostumados a presenciar e até mesmo serem vítimas.

A equipe de reportagem de A Plateia entrevistou um dos comerciantes que há alguns anos faz o trajeto Livramento-Ciudad Del Este, e teve acesso a informações de casos de violência vividos por ele, que se vê obrigado a enfrentar o perigo para proporcionar o sustento de sua família.

Em seu relato, o santanense cita dois casos pelos quais passou: um sequestro e um assalto.

Por medo de represálias por parte das quadrilhas que agem não apenas na fronteira Brasil-Paraguai, mas também pelas estradas utilizadas pelos gaúchos para chegar até a cidade paraguaia, o comerciante aceitou dar entrevista, mas com a condição de não ser fotografado e também de não ter seu nome divulgado. 

A Plateia – Como foi o caso do sequestro?
Comerciante – Éramos quatro pessoas, dois homens e duas mulheres, e viajávamos em um veículo particular no ano passado, lá pelo mês de agosto, para fazer compras em Ciudad Del Este, no Paraguai. Chegamos a Foz do Iguaçu, cidade brasileira do Paraná que faz divisa com o país vizinho, e pegamos uma van para atravessar a Ponte da Amizade para fazer as compras no lado paraguaio, como já havíamos feito outras vezes. Instantes após embarcarmos, o motorista mudou o trajeto e foi anunciado o assalto.

A Plateia – Eles utilizaram violência?
Comerciante – Mandaram que ficássemos com a cabeça abaixada. Eles usavam armas e ficaram o tempo todo nos ameaçando. Não sei precisar quanto, mas nos levaram para ruas menos movimentadas e mandaram que entregássemos todo o dinheiro que tínhamos e os objetos de valor (joias, relógios…). Em meio ao ocorrido, um de nossos colegas de viagem ergueu a cabeça para ao menos tentar identificar o local para onde estavam nos levando, e os bandidos o agrediram com uma coronhada.

A Plateia – Qual foi o desfecho?
Comerciante – Depois de rodar por um bom tempo, eles pegaram todo o dinheiro que tínhamos levado para as compras e as outras despesas da viagem e nos abandonaram longe da zona central da cidade.
Logo após percebermos que não havia mais perigo, buscamos ajuda e fomos à delegacia prestar queixa. Entramos em contato com nossos amigos e familiares para obtermos recursos suficientes para retornar a Livramento. Há algum tempo, ficamos sabendo que alguns integrantes da quadrilha foram presos.

A Plateia – No momento do sequestro, quais eram seus principais pensamentos?
Comerciante – Muito medo, pois os marginais estavam dispostos a qualquer coisa. Pensava em minha família e, principalmente, pedia a Deus que nos protegesse e livrasse daquela terrível situação.

A Plateia – Esta foi a primeira vez que você passou por uma situação de violência ao viajar para Ciudad Del Este?
Comerciante – Infelizmente, não. Certa vez, participamos de uma excursão de ônibus e fomos parados na estrada quando retornávamos para o Rio Grande o Sul. Os assaltantes levaram toda a mercadoria, fizeram-nos tirar a roupa e nos trancaram no bagageiro do ônibus. Tivemos que esperar um bom tempo até alguém passar pelo local, ouvir os gritos e prestar socorro.

A Plateia – E atualmente, qual é a situação? Casos como este da turista baleada na Ponte da Amizade, são comuns acontecerem?
Comerciante – São sim. E agora, os assaltos acontecem muito nas estradas dos três estados que levam até Foz do Iguaçu, ou seja, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os bandidos monitoram os veículos, e realizam os assaltos, principalmente quando as pessoas estão se dirigindo ao Paraguai, ou seja, agem antes de fazermos as compras, roubam o dinheiro. Eles escolhem as vítimas que circulam em automóveis que possuem a suspensão traseira mais elevada, característica dos carros que transportam as mercadorias. Isso acontece apenas no deslocamento até aquele país, aí, imagina na Ponte da Amizade e até mesmo em Ciudad Del Este. Lá, os criminosos agem quase que livremente e praticam toda e qualquer barbárie, e apesar da atuação da polícia, eles conseguem se utilizar da fronteira para realizar suas ações.

A Plateia – Vocês seguem fazendo viagens ao Paraguai? Já pensou alguma vez em trocar de atividade?
Comerciante – Seguimos, sim. Com certeza gostaríamos de ter outro tipo de trabalho, mas enquanto não surge uma oportunidade melhor, temos de seguir correndo o risco de passar por este tipo de situação, pois precisamos lutar pelo nosso pão de cada dia. Mas, certamente, ao surgir uma chance de serviço, trocaríamos de atividade profissional. Tentamos tomar todos os cuidados possíveis para não passar por isso novamente, mas temos consciência de que corremos sério risco. Toda vez que saímos de casa não sabemos se vamos retornar. Nossos familiares ficam em pânico, mas fazer o quê, temos que trabalhar. Porém, temos muita fé e sabemos que Deus ilumina cada passo e entregamos a Ele nosso destino.

Relembre o caso da turista baleada na Ponte da Amizade

Noiara Bonatto de Souza

A turista de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, Noiara Bonatto de Souza, foi baleada durante uma tentativa de assalto na Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, na manhã de sábado (12) e morreu por volta das 16h.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), três rapazes armados se aproximaram e anunciaram o assalto. Os turistas estavam indo fazer compras em Cidade do Leste, no Paraguai. A gaúcha, que estava logo à frente, com o marido, se assustou e foi atingida com um tiro no abdômen.

Noiara tinha 27 anos, passou por uma cirurgia, foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas não resistiu aos ferimentos.

Os assaltantes fugiram levando dinheiro e documentos dos turistas. A Polícia Civil da cidade está investigando o caso.

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