AS MÁS COMPANHIAS DO PT
Quando o PT foi fundado por um grupo de idealistas de esquerda, em 1980, a coluna central da nova entidade político-partidária em construção estava iluminada pelo farol da ética. Essa mesma ética transmitida pelos séculos como “um conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano”.
Quem, por mais adversário que fosse do novo partido, imaginaria que ao entrar no seu trigésimo ano de existência, o PT estria infestado de “más companhias”, sendo estas as responsáveis pelos deslizes éticos e crimes políticos cometidos pelo partido?
As “más companhias” foram definidas pelo ex-governador Olívio Dutra numa entrevista ao colega Juremir Machado da Silva, no programa “Esfera Pública”, da Rádio Guaíba, nesta segunda-feira, onde participava também o deputado federal e amigo de Olívio, José Genoino. Olívio, num primeiro momento, me disse o Juremir, não queria interferir no diálogo do apresentador com o deputado, mas terminou provocado e definiu o que entendia por “más companhias”.
“Eu avisei em uma ocasião que íamos sofrer com as más companhias. Más companhias que não são somente aquelas de fora para dentro, mas também de dentro do partido à medida que vão chegando pessoas. Na medida que tu tens cargos para oferecer, há pessoas no partido que não conhecem nada da história nem da razão de ser. O PT falha nisso e deixa de ser uma escola política e passa a agregar pessoas por conta dos cargos.”
E o PT descambou para o mesmo andar de baixo dos outros partidos. Ele deixou a cobertura e a posição privilegiada de ostentar orgulhosamente a faixa de Miss Ética, virgem e dotada de todos os atributos para um casamento bonito, na igreja e no cartório, com a parte decente deste país, para se tornar uma maria-chuteira qualquer, agarrada ao alambrado, em busca de alguém com brinquinho na orelha e uma conta bancária robusta.
Isso quer dizer que o PT nunca teve “más companhias” quando foi fundado? Sinceramente respondendo é possível de se dizer que não havia “más companhias” na ata de fundação do partido, por uma razão bem humana: o PT não tinha nada a oferecer que não fossem idéias diferentes de chegar ao poder. Em linguagem do povão: não tinha cargos nem podia redigir editais com aditamentos.
As “más companhias” ainda habitavam os andares de baixo do edifício da política brasileira e elas só foram se aproximando do PT à medida que o partido conquistava prefeituras, governos estaduais e, finalmente, a Presidência da República. Na mesma proporção, os éticos e os históricos petistas que não aceitavam a equalização rasteira do partido ou se retiravam em silêncio (Olívio é um destes) ou fundavam outros partidos como a turma do PSOL.
O deputado José Genoino está entre aqueles que optaram por uma nova ética que foi se consolidando com as conquistas eleitorais do PT, cuja orientação tem muito a ver com o comportamento de José Dirceu. Aquele DNA inicial com o gene da ética foi invadido pelo vírus do poder que traz consigo um parceiro definido como corrupção, estes dois últimos destruíram as defesas éticas petistas.
José Dirceu substituiu os genes saudáveis pelo vírus definido por Olívio Dutra como o das “más companhias” e aí se mixou o que havia de pior na política brasileira – José Sarney, Paulo Maluf, Collor de Mello, etc. e tal – no próprio conceito petista. Na Casa Civil do primeiro governo Lula, Dirceu se encarregou de unir políticos espertos, empresários mais ainda e os velhos corruptos de todos os governos.
Passou a valer o “toma lá, dá cá”, o “rouba, mas faz”, “é dando que se recebe” e “os fins justificam os meios.” No Brasil, “as más companhias” detonam edifícios éticos e constroem outros à base de uma boa comissão. Quem resiste passa a ser companheiro de Olívio Dutra. Não duvidem se o ex-governador começar a ser visto como um histórico superado dentro do PT.
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