Todos mudamos em 11 de setembro

Sim, parece que foi ontem.

É o que dizem todos, espantados porque transcorreu uma década, já, do fantástico atentado de 11 de setembro, que derrubou o World Trade Center, em Nova York. E que atacou o Pentágono, além de outro avião explodido antes de chegar ao alvo, talvez a Casa Branca.

Eu havia estado lá há pouco tempo.

É uma das cidades de que mais gosto. Costumo dizer aos amigos, nas conversas de bar, que deveríamos todos ter o “direito constitucional” de uma viagem a Nova York e Paris, anualmente.

Ambas são capazes de sintetizar o mundo, na sua multiplicidade de raças, na dinâmica dos negócios da América, uma, nas riquezas artísticas européias a outra.

Como a grande maioria, lembro muito bem onde me encontrava naquela manhã. Estava no trânsito e fui alertado pelas notícias do rádio. Fiz um retorno e me postei à frente da televisão, em casa, solitário e incrédulo, para acompanhar os repetidos ataques, suicidas e mortais.

Enquanto o presidente americano George Bush voava apalermado, sem destino e sem saber o que deveria ser feito, a bordo do seu Force Air One, um homem se destacava pela coragem e serenidade, nas ruas cinzentas e esfumaçadas de Nova York: o prefeito da cidade, Rudolph (“Rudy”) W. Giuliani, já celebrado pelo combate ao crime, incluindo a limpeza da Times Square, até então dominada pelo tráfico de drogas e pela prostituição.

Algum tempo depois de deixar a prefeitura, com a serenidade que fez muitos compará-lo ao primeiro-ministro inglês, Winston Churchill, na Londres bombardeada pelos nazistas, Giuliani produziu uma comovente análise pessoal das conseqüências dos atos terroristas. Guardo-a no computador:

“Fiquei muito mais consciente da fragilidade da vida humana, da importância dos relacionamentos e da necessidade de ter e cultivar amizades sólidas. Também me conscientizei da necessidade de defender a democracia. Não podemos mais acreditar que a democracia exista naturalmente. Ela precisa ser defendida. A liberdade política e religiosa e as oportunidades econômicas que as pessoas desfrutam são conquistas pelas quais temos de estar dispostos a lutar. Pelo que vimos em 11 de setembro, sempre haverá gente disposta a destruir essas conquistas.”

Raros foram aqueles que, ao redor do mundo, deixaram de refletir sobre essas nossas circunstâncias. Afora, é claro, alguns poucos capazes de comemorar a vitória do terror. Esses vão sempre existir, inclusive aqui, bem perto de nossas casas.

Tínhamos consciência de que o mundo seria diferente depois de 11 de setembro de 2011. E assim foi.

Todos mudamos e não apenas porque há maior rigor na segurança dos aeroportos. Por não ter se oportunizado, por não ter me programado, dou-me conta de que há dez anos não volto a Nova York.

Não por temor. Quem sabe por respeito às milhares de vítimas. E com certeza pela convicção de que não me será mais uma viagem tão alegre e colorida como antes.

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