O lixo que acumulamos

Vivemos numa época em que tudo se acumula e vira lixo e até os livros, quem diria, estão sendo jogados fora.
Não quero, portanto, contribuir mais com esse grande monturo de lixo não reciclável. Já basta aquilo que escrevo, e que se acumula, porque não consigo parar.
Uma coisa que me preocupa é a quantidade de lixo acumulado em minha casa e que não me animo a jogar fora, desde papéis e pequenos objetos, como lápis, canetas, clipes, baterias e pilhas usadas, até coisas de maior volume, valor e importância, como livros meus e dos outros autores, camas, armários, fogões e geladeiras. Pra que isso, minha gente? E o pior é que não podemos fazer nada, porque essas coisas vão continuar existindo em nossa casa ou em outro lugar. De modo que esse alívio que sentimos, ao nos vermos livres de alguma coisa, é egoísta e irresponsável, pois apenas transferimos o problema (ou lixo) para outra pessoa.
Eu me lembro que uma vez o saudoso professor Darcy Muller comentou que lamentava, depois de alguns meses de ausência, não ter encontrado mais, num apartamento que lhe fora emprestado para colocar seus livros, mais de cinco mil volumes que estavam ali armazenados. O apartamento tinha sido vendido e os livros do professor haviam desaparecido. E o pior é que ele não se animava a perguntar aos novos proprietários do apartamento sobre o destino dos livros. Mas ainda restava o seu próprio apartamento, no mesmo edifício, abarrotado de livros. O professor tinha um grande apego aos seus livros, revistas e jornais.
Não sei por que nos apegamos a tantas coisas já inúteis pelo menos para nós, que teimamos em guardar, como livros, revistas e jornais que já foram lidos, fotografias, notas, folhetos, papéis, recibos e cartões de natal. Tudo isso, mais cedo ou mais tarde, vira lixo e tem de ser queimado ou jogado fora. Também o lixo eletrônico vamos deixando acumular.
Outro tipo de lixo que acumulamos é o mental ou de consciência, talvez o mais nocivo. Ele é feito de nossos pecados, de maus sentimentos, de maus pensamentos, de preconceitos e de tudo de imaginário que não presta.
A quantidade de lixo que acumulamos é preocupante. O ideal seria que não tivéssemos nada além da roupa do corpo e de uma consciência sem pecados. Seria muito mais fácil para viajar, mudar de vida, de domicílio, ou até ir embora deste mundo, sem deixar nada para trás.
Luciano Machado

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