VALÉRIO FALOU

Aquela ameaça de Marcos Valério ao ser condenado pelo STF como operador financeiro do mensalão – “não vou cair sozinho” – foi registrada na Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro deste ano quando depôs durante três horas e meia para duas procuradoras encarregadas de ouvi-lo.

O jornal “O Estado de S. Paulo” teve acesso ao depoimento e revela que o ex-presidente Lula quando governava o país em 2003 teve algumas de suas despesas pessoais bancadas com o dinheiro do mensalão, depositado na conta do ex-assessor presidencial Freud Godoy. Valério afirmou também que Lula deu o “ok” final para os empréstimos bancários que serviram para a compra de deputados da base aliada.

Trata-se de um depoimento de alguém que foi condenado pelo STF e que não quer “cair sozinho” pagando com uma pesada pena de 40 anos de prisão quando, na verdade, ninguém opera com dezenas e dezenas de milhões de reais sem ter “ordens superiores” e uma boa quadrilha para apoiá-lo em suas ações criminosas.

Todas as pessoas citadas por Marcos Valério, as principais pelo menos, reagiram às suas declarações. José Dirceu repudiou a acusação através de seu advogado e Lula não quis falar. Paulo Okamoto, outro amigo de Lula – aquele pagava as contas do presidente – disse que só se manifestaria sobre as declarações de Valério “quando souber o teor do documento” em poder da PGR.

O depoimento de Marcos Valério é muito semelhante aos prestados por bandidos quando pegos pela polícia e resolvem “entregar tudo” em troca de proteção pela colaboração prestada. Em casos assim cabe às autoridades investigarem os crimes de posse daquilo que se convencionou chamar de “inside information” – aquela informação que vem de dentro de um esquema ou de uma corporação, a qual é valiosa e, em alguns casos, demolidora.

Valério era uma peça importante no esquema do mensalão e quando ele foi parar no STF, o publicitário chegou a receber a proteção dos envolvidos e dos cabeças da fantástica falcatrua. Primeiro, prometeram a Valério que não ia dar em nada. Depois, com a denúncia formalizada e o publicitário transformado em réu, o PT pagou-lhe advogados no valor de R$ 4 milhões, “ a única contrapartida” recebida, conforme seu depoimento na PGR.

Como o que não “ia dar em nada” resultou em 40 anos de prisão, Valério resolveu falar tudo sobre o mensalão. E foi aí que, segundo o publicitário, houve uma ameaça de morte. “Tem gente no PT que acha que a gente deveria matar você” teria lhe dito Paulo Okamoto que foi procurá-lo “por ordem de Lula”.

Seria hoje Marcos Valério um homem marcado para morrer como Celso Daniel que também tinha muita “inside information” sobre as falcatruas do PT? “Você se comporta ou morre”, foi a outra ameaça recebida e que está no seu depoimento na PGR.

O DEPOIMENTO

Marcos Valério prestou seu depoimento sobre o mensalão para duas procuradoras do PGR: Claudia Sampaio e Raquel Branquinho, por 3h30, e o mesmo está registrado em 13 páginas, gravado num pen drive e muito bem guardado num cofre.

OPINIÕES (1)

O ex-presidente Lula disse apenas que se trata de “uma mentira” o depoimento de Marcos Valério. Roberto Jefferson, o denunciante do mensalão em 2005, classificou como “coisa de canalha a delação premiada”. A presidente Dilma, de Paris, disse que o depoimento é “lamentável”.

OPINIÕES (2)

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), classificou de “profunda inverdade” as acusações. “A pessoa que disse não tem autoridade para falar mal do presidente Lula, que é um patrimônio da história deste país”, disse o presidente do Senado. O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS) também se manifestou: ““Não é uma afirmação que mereça crédito, eu acho que deve ser mandada para arquivo.”

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