Secretário prega informatização e nenhuma criança fora da escola

Mario Augusto Santanna dá uma ideia do que pretende implementar na pasta, a partir de janeiro

O futuro titular da Educação, Mário Augusto Ribeiro Santanna, falou ontem sobre as expectativas que mantém em torno da secretaria que irá assumir no dia 1º de janeiro de 2013. Como ponto de partida, estabelece que o processo de gestão deverá ser o grande referencial na dinâmica que deseja implementar. “Desde a campanha, trabalhamos em alguns eixos fundamentais para a educação. É um ponto de partida. Países que investiram pesado em educação conseguiram ter o retorno. Mas, se sabe que esse retorno não é imediato e, sim, décadas à frente, quando aquela criança estiver na geração produtiva” – pondera. O futuro secretário foi um dos entrevistados de ontem do programa Canal Livre, da RCC FM, que de forma flexibilizada está ouvindo todos os integrantes do primeiro escalão do governo 2013-2017, já confirmados.

Para Mário Santanna, educação é um processo ativo, dinâmico e tem que ser analítico. O primeiro grande eixo, segundo ele, é a valorização do profissional na formação continuada. “O mundo evolui muito rápido, então é necessária a formação continuada, para o professor e para qualquer profissional. Os médicos, por exemplo, ficam constantemente participando de seminários de atualização e aperfeiçoamentos. Temos que proporcionar ao professor a formação continuada, pois senão, ele tem uma formação de 15, 20, 30 anos e poucas vezes têm possibilidade de se aperfeiçoar. Fica atrelado ao sistema com aquele trabalho massificado pelo tamanho e pela responsabilidade” – destaca.

O Poder Público, conforme Santanna, vai ter que proporcionar a esse profissional as condições para essa formação continuada. “Estamos hoje na geração Y. As crianças de cinco anos manuseiam os computadores, os jogos, as máquinas muito melhor do que nós. Não estamos adaptados a essa psicomotricidade que eles desenvolvem. Temos que ter ciência que a nossa criança de hoje é muito diferente da criança de 10 anos atrás. Nosso tempo já foi, não serve mais como referência para essa geração que aí está, e temos salas de aula no estilo ultrapassado. Hoje, uma criança está estudando, ouvindo música, mexendo no computador e fazendo carinho com o pé no cachorro. Elas conseguem ter essas múltiplas funções. Temos que saber trabalhar com essa geração Y e não sonhar com o passado, com o ‘nosso tempo’” – explana.

Para o futuro secretário, o sistema obriga a implantar modificações. No ensino médio, por exemplo, o Enem modificou a estrutura. “E como é complicado mudar! As escolas têm dificuldades, os professores também. Imagine que uma prova de matemática do Enem trabalha com o cotidiano, com interpretação de tabelas, gráficos, com transformações, não mais com os números complexos, com geometria analítica, com polinômios, que não levavam o jovem a lugar algum” – comenta.

“Dentro dessa concepção de mudança é que temos que trabalhar” – pondera. O novo titular da Educação dá um exemplo: a dificuldade de profissionais que dão cursos de formação no SENAI e cujos alunos não conseguem interpretar o manual da máquina ou não conseguem interpretar os gráficos daquelas máquinas de torneamento. “Ou seja, o problema está na interpretação de texto, na análise de gráficos e tabelas” – raciocina.

“Então, e isso vai ser uma política pedagógica da nossa administração, temos que provocar a interdisciplinaridade. As disciplinas nas séries finais não podem trabalhar sozinhas. A matemática, a língua portuguesa, as ciências, vão ter que dialogar entre si para formar um cidadão e, dentro disso, colocarmos, como concepção de educação os direitos humanos, a questão ambiental, os grandes eixos, porque, se lá na criança aos 5, 6 anos a gente ensina e tem o momento de ensinar que a violência doméstica é errada, talvez com 30, 35 anos, não vai agredir a mulher. Também na questão ambiental, tem que saber que quando pegou o copinho de plástico, tem que colocar na lixeira. E talvez, quando esteja na BR, 20 anos depois, tenha essa consciência. Muitas vezes, perdemos tempo ensinando conteúdos que não têm muita aplicabilidade na vida do cidadão. Por tudo isso, é que temos o Mais Educação, que vamos tentar implementar na maioria das escolas municipais, onde, com atividades lúdicas e com esse tipo de currículo também, a criança vai estar em turno integral. Esse é um cerne que queremos” – explica. 

Horário das escolas infantis 

Na educação infantil, é meta a ser seguida a ampliação do horário de acordo com as necessidades dos cidadãos, segundo refere o novo secretário. Ele pondera que as crianças não tenham obrigatoriamente que sair da escola às 17h. “Esse é um serviço que vamos usar uma engenharia, pois há casos nas escolas em que não há necessidade da criança ficar até 19h. Poderá sair às 16h, se houver condições do pai ou da mãe ir buscar. Temos que disponibilizar o serviço, mas teremos que ver qual público necessita disso. Por exemplo, dentro de 70 crianças, há 28 que o pai necessita buscar às 19h, outras 20, podem ser liberadas às 16h. Não vai ser algo forçado, terá atividades lúdicas, até a hora que o pai possa ir buscar seu filho, tendo a certeza de que está bem cuidado e seguro” – exemplifica. 

Questões importantes da educação 

A Plateia/RCC FM – Fundamentais para essa nova realidade pretendida são os recursos. Como obtê-los?
Santanna – Temos vários eixos estipulados pelo prefeito Glauber Lima, para que o serviço, lá na ponta, tenha maior qualidade e também vamos promover a reparação da rede física. Vamos entender que no mundo empresarial, podemos ter duas empresas, do mesmo serviço, uma ao lado da outra. Uma dá certo e outra não. Isso se resume a gestão. Nós vamos nos apropriar de todos os dados, mas tenho a convicção de que com a reforma administrativa do nosso município, elegendo os pontos fundamentais que tenhamos que trabalhar em um primeiro momento, vamos conseguir, dentro dessa realidade, aplicar bem os recursos. A comunidade não aceita mais desculpas e muitas vezes ela não quer solução imediata – está cobrando uma resposta. Tem que ser dito: “olha, nesse momento não dá, mas vamos estabelecer um plano de metas e metas têm prazos claros. Em três meses resolveremos esta demanda, em seis meses aquela outra”. Temos 5.200 alunos na rede municipal hoje, 44 escolas, muitas delas rurais. Durante o mês de janeiro, quero conhecer todas essas escolas, algumas já estou conhecendo durante a transição, que está ocorrendo de forma muito tranquila. A atual secretária de Educação, professora Vera Machado, solícita, sempre nos passando todos os dados; a quem faço um agradecimento. Isso facilita muito nosso conhecimento sobre o que vamos enfrentar a partir do dia 2 de janeiro. Vamos estabelecer um plano de metas a curto prazo, posicionando o que é mais urgente, mas um plano efetivo. E para isso vamos precisar do apoio da comunidade e a comunidade está querendo apoiar. Vamos fazer um grande movimento com a comunidade civil organizada, com a classe empresarial, para conhecer primeiro, porque nas escolas municipais, a clientela são os filhos dos consumidores das nossas empresas. Vou, sem dúvida nenhuma, pedir ajuda à comunidade. Vamos atrás, sim, de recursos. Temos o alinhamento com o governo federal, com o governo estadual. Nós trabalhamos nesses aspectos, ele é real. A partir de janeiro, estaremos em contato direto com o Ministério da Educação e a Secretaria de Estado da E ducação. 

A Plateia/RCC FM – Qual é o primeiro foco?
Santanna – Num primeiro momento, pretendemos conseguir, com o secretário José Clóvis, em Porto Alegre, o Mais Educação para o maior número de escolas possível em Livramento. E, com o Ministério de Educação, além do PAR, além de escolas, ônibus, ar condicionados, pois as nossas escolas necessitam. Há 40 anos, era janela aberta, mas hoje, as escolas são mais fechadas, pela segurança, pela questão da violência. As janelas são menores. Ar condicionado é indispensável em uma sala onde estão 25 crianças. Vamos a busca disso. Há recursos no Plano de Ações Articuladas (PAR), para que lá na ponta, o serviço seja de melhor qualidade e é isso que a comunidade quer.

A Plateia/RCC FM – Como ficam os contratos vigentes na área de Educação?
Santanna – Concurso público é inevitável. A cada fim de ano, a prefeitura e a cidade passam por esse processo traumático de contratos serem renovados ou alguns que, por prazos, não há como renovar. A comunidade fica apreensiva, porque o professor que está naquela escola há dois anos, de repente não vai mais estar. O concurso soluciona tudo isso. Dá continuidade ao serviço público. É proposta do Partido dos Trabalhadores esse concurso. O professor concursado é tranquilo, lotado na sua escola. Facilita para o professor e para a comunidade. É urgente e é para 2013, mas tem um trâmite a ser cumprido. É uma prioridade. Os professores contratados vão permanecer agora. Solicitamos o encaminhamento da renovação desses contratos. Não tem como não fazer. Na Educação e na Saúde. 

A Plateia/RCC FM – Como estruturar a pasta para operacionalizar as políticas públicas?
Santanna – O projeto básico é informatizar a Secretaria de Educação e não confundamos. Informatizar não é ter um computador em cima da mesa. Falo de interligação entre a secretaria e as escolas. Vamos fazer o projeto piloto, durante esse primeiro mandato, de um computador por aluno. Dar para o aluno a ferramenta que ele mais deseja. Nada substitui o professor e o quadro, mas vamos agregar tecnologia. Temos que ter respostas, não só na Educação, mas na prefeitura, como um todo. Respostas rápidas. Vou querer saber a cada fim de mês, para monitorar, quantos alunos estão em aula. Não vamos esperar o fim do ano letivo para saber. Criança tem que estar na escola. Precisamos controle.

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