Gurizada na política

Nos dias que antecederam a eleição de 7 de outubro, A Plateia ouviu jovens a respeito da política e da eleição, assim como conferiu no Cartório Eleitoral o número de inscrições de jovens de 16 anos para votação. O fato é que, embora Livramento, no contexto global, tenha dado um sinal de que deseja mudanças, poucos são os jovens que se sentem atraídos pela política. Isso é um reflexo de praticamente todos os bairros da cidade.

E são muitos os fatores que afastam o jovem da política, começando pelo cenário sombrio da atual fase política brasileira. Se na década de 80 os jovens cresceram em meio ao embate pela volta das Diretas Já e na de 90 os ‘caras pintadas’ invadiram as ruas em busca de mais moralidade na política, os jovens de hoje não têm motivos para tamanho envolvimento.

A falta de punição exemplar para quem é pego envolvido em algum esquema de corrupção também contribui para o desinteresse, afinal, para que se envolver, protestar, se no fim a impunidade impera?

Nesse aspecto, o julgamento do Mensalão e as condenações, sobretudo, lidas cotidianamente pelo relator, ministro Joaquim Barbosa, poderão ter um impacto diferenciado sobre a juventude, assim como sobre toda a sociedade.

A própria mudança social, com os jovens indo para o mercado de trabalho, também contribui para este cenário desolador, afinal, os jovens de hoje serão os líderes do amanhã e, o desinteresse pela política pode sim formar um ambiente ainda mais propício para que esquemas como o do mensalão sigam sendo praticados pela maioria.

As facilidades tecnológicas de hoje também ajudam a afastar o jovem da política. É muito melhor ficar no ambiente climatizado e no conforto do computador a se arriscar em caminhadas pelos bairros debaixo do sol escaldante. Os celulares, tablets e outras modernidades estão aí para serem usadas, ao invés de longos discursos que muitas vezes são tão vazios quanto a mente de milhares de pessoas que ouvem e fingem acreditar em tudo aquilo.

Há ainda outro fator muito importante: o próprio desinteresse dos partidos em fomentar a participação dos jovens, que querem espaço, voz e vez. O problema maior, no que tange a esse aspecto, é o fato de os antigos não abrirem espaço para que surjam novas lideranças, de modo geral, pois raros são aqueles partidos políticos ou, enfim, organizações em geral da sociedade civil, que buscam estimular a juventude nesse sentido.

As decisões são tomadas, na maioria das vezes, pelos caciques, sem ouvir os anseios dessa juventude que precisa – e quer – ser ouvida. Mas não pode ser uma atenção disfarçada, até porque os jovens de hoje são muito mais ‘antenados’ sobre os acontecimentos e a fase da ‘engabelação’ não funciona mais.

Raros são os partidos que incentivam a presença dos jovens e serão estes partidos que farão a diferença no futuro, sim, porque os caciques cedo ou tarde se vão e os espaços permanecerão para serem ocupados. Sairá na frente que tiver uma proposta séria de atenção aos jovens e não ações esporádicas e com a única finalidade de preencher espaços nos programas eleitorais.

A questão é que juventude na política deixou de ser apenas para a propaganda eleitoral, para mostrar o guri satisfeito com as obras ou estudando em um colégio que, alegadamente, determinado candidato construiu, ou, ainda, sorrindo em meio a outros jovens, como elemento de massificação de determinada ideia. É ledo engano deixar de perceber que os jovens podem e devem ocupar os espaços, mesmo que cometam erros, pois faz parte do processo de aprendizado errar. E só pode errar em quem faz.

Esse é um lembrete, principalmente, para a juventude que, enquanto militância – paga ou não – deu aula de civilidade, mas enquanto postura de liderança, ainda está deixando a desejar.

 

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