Para não perder a esperança

Convivo com eleições desde menino. Acompanhei algumas delas antes ainda do direito de votar, quando meu pai foi candidato e duas vezes escolhido prefeito.
Outra época, outras práticas políticas. E o interesse da população sempre em primeiro lugar.
Recebi, há algum tempo, da Câmara de Vereadores da minha cidade, cópia integral do Código de Posturas de Marcelino Ramos, promulgado por Modesto De Grandi em novembro de 1948. São 459 artigos e mais de 70 páginas redigidas de próprio punho pelo prefeito. Dedicação exemplar à causa pública e orgulho para seus descendentes.
Volto à urna, neste domingo, com a certeza de que o faço com responsabilidade, escolhendo aqueles que, a meu juízo, são as personalidades mais adequados a este momento da história de Porto Alegre.

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Voto tendo presente as palavras duras, embora serenas, de dois respeitabilíssimos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em duas das últimas sessões de julgamento do “mensalão”.
A ministra Cármen Lúcia, atualmente na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, depois de prolatar o seu voto sobre corrupção de parlamentares, no último dia 27, fez um comentário paralelo, para dizer que o fato de o STF estar julgando pessoas que contrariam a lei não significa que a política seja necessariamente ou sempre corrupta:
- Eu não gostaria, a dez dias de uma eleição, que os jovens, principalmente, desacreditassem da política pelo erro de um ou outro. A melhor política deverá ser sempre exercida com a ética, pois em nossa sociedade a alternativa à ética é o caos, e não discutimos mais se precisamos de ética. Quem exerce cargo político deve exercê-la com mais rigor.
Revelou que teremos 450 mil candidatos e 138 milhões de eleitores, no país, nas eleições do próximo domingo e, conforme pesquisa, “muitos deles desencantados com a política”.

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Outra manifestação severa foi do decano do STF, o ministro Celso de Mello, ao condenar os réus, na última segunda-feira. Durante quase vinte minutos, em linguagem clara, olhando nos olhos do presidente Ayres Brito e dos demais ministros, ele declarou que os denunciados eram “marginais do poder” e formaram uma quadrilha de “verdadeiros assaltantes dos cofres públicos”.
- Esse quadro de anomalia – reforçou ele – revela as gravíssimas consequências que derivam dessa aliança profana entre corruptos e corruptores, desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, tanto públicos como privados, e de parlamentares corruptos com comportamentos criminosos, devidamente comprovados.
E mais:
- O processo revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de governo.
Que as palavras dos ministros sejam ouvidas por todos e que não percamos a esperança na democracia.

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