Cuidado com esses destemperos políticos
Acabo de receber a pergunta mais uma vez, via e-mail:
“Que país é este que junta milhões numa marcha homossexual,outros milhões numa marcha evangélica, muitas centenas numa marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?”
Outras tantas já me chegaram com este ou outro teor semelhante e com o mesmo sentido. Certamente, muitos leitores também as receberam.
Parece estar havendo uma tomada de consciência.
Parece crescer a indignação do país.
Alguns organismos importantes, como é o caso da OAB, decidiram se ombrear a meia dúzia de parlamentares e dizer um basta a esse quadro de desordenamento perigoso que envergonha a Nação.
É inegável que a corrupção no Brasil chegou a níveis nunca imaginados e permeia, hoje, as relações de agentes públicos e empresasfornecedoras e contratadas pelo governo, em todos os níveis da administração.
A pergunta é: a internet está sendo utilizada, finalmente, para conscientizar os brasileiros sobre os grandes males da política e da administração pública?
Quem sabe. É aguardar os próximos capítulos.
A imprensa está fazendo sua parte: o jornalismo investigativo tem nos oportunizado tomar ciência e consciência de graves episódios.
No último fim de semana, a reportagem da revista Veja denunciou as estranhas visitas de ministros e parlamentares ao apartamento e/ou escritório de José Dirceu no Hotel Naoum, em Brasília, a poucos passos da sede do governo federal.
O ex-ministro e deputado cassado tem todo o direito de protestar e processar os autores da reportagem, a revista, quem bem entender.
Mas não se pode negar que é pelo menos questionável a comprovada peregrinação permanente de altas autoridades da república à “casa” de José Dirceu.
Ele reclama que tem o direito de conversar e trocar ideias com quem bem entender, especialmente com seus amigos. E isso é verdade.
Mas também compete indagar a motivação desses agentes públicos que, em horário de expediente, vão ao encontro do homem acusado de chefiar o famoso esquema do “mensalão”.
Para citar uma só das visitas: o sr. José Sérgio Gabrielli, presidente da poderosa Petrobrás, esteve com José Dirceu durante meia hora de uma tarde de segunda-feira. Se ambos são amigos e partidários há muitos anos e falaram sobre os problemas do país, sobre política ou amenidades, como se alega, porque não o fizeram ao entardecer, ou à noite, num “happy hour” ou um jantar, tudo regado a bons champanhes e vinhos?
Nesta terça-feira, penúltimo dia de agosto, na Câmara dos Deputados, Jaqueline Roriz, flagrada recebendo dinheiro, num vídeo gravado por Durval Barbosa, o denunciante do chamado “mensalão do DEM”, foi absolvida por seus colegas de parlamento.
Por 265 votos a 166 e 20 abstenções, a Câmara rejeitou a recomendação do seu Conselho de Ética pela cassação da deputada, sob o argumento de que o vídeo, por ser anterior à sua eleição, não significa falta de decoro.
Um desrespeito aos milhões de honestos do país.
E fico a me perguntar se não estão exagerando na dose. Sim, isso pode lhes custar muito caro se a população decidir mesmo se mobilizar via internet.
Cuidado. As redes sociais estão derrubando governos.