Máquina gaúcha do tempo

Vale, pelo diferencial, antecipar um pouco no tempo e no espaço para 19 de setembro, embora o 14 seja hoje, com o início da Semana Farroupilha. O motivo desse avanço temporal é sempre: fazer com simplicidade que as pessoas percebam o significado do 20 de Setembro para cada gaúcho.
Truco! – grita um. Quero! – Resmunga o outro, enquanto espeta um naco de carne com a ponta da Solinge (Solingen), levando à boca para mastigar. Lua, aparecendo oras sim, oras não; nuvens escurecidas corcoveiam, pançudas de chuva. Oxalá que passe, ora outro. Lá na volta da mangueira, um pachola bombeia, com serenidade aquela imensidão de campo volteada pelas curvas do manto escuro. De vez em quando, um grilo estrila e nem o vento se faz presente para mover as folhas da frondosa árvore na volta do galpão.
Retruco!
Enquanto os jogadores, de mano, envidam o truco; lá no fundo do galpão, um torena ajeita a carona, lustra bem as botas, inclusive passando um pedacito de sebo, por um se acauso! O caseiro ajeita o fogo, apenas para manter a água quente para o mate. Ninguém dorme, afinal, amanhã é o dia!
Cedito, nos primeiros raios do sol – tomara – se largam para o povo. Fica só o caseiro, afinal, na escala, o 20 é o dia dele. A turma lidou bastante hoje e ainda fez sobrar tempo para conferir as ferraduras dos cavalos, que asfalto, bah, é asfalto! Ainda mais se – Deus o livre – chega a cair uma porquera de uma chuva!
Sim, porque hoje (dia 20, claro, recorde o leitor que avançamos semanticamente falando no tempo).
Esta cena estará acontecendo na noite de 19 de setembro, pelos galpões, com maior ou menor riqueza de detalhes, com personagens anônimos que preparam a vinda para cidade, a cavalo – normalmente de propriedades ou entidades próximas ao centro. A missão: desfilar a contento, sob a bandeira do Rio Grande. Honrar as tradições pampeanas. Glorificar o passado e reverenciar homens e mulheres que os precederam.
Sant’Ana do Livramento celebrará o fim de uma dúvida sobre o número de participantes no desfile comparativamente falando, em relação a Alegrete, haja vista que a RCC FM confirmou que vai enviar um taura especificamente para contar.
Claro que o que importa mesmo é a qualidade e a galhardia, o civismo gaúcho, o amor pelo fogo de chão, pelo corcovear do potro no campo, pela simplicidade que a natureza estabelece e a mente define, pelo sentimento inexplicável de amor pela terra, pela cultura, pela gente, que normalmente, não se sabe explicar e, sobretudo, a dedicação de cada um dos filhos do Rio Grande.
Bueno, como diz o fronteiro, é tempo de voltar no tempo para dia 14 de setembro, hoje, quando estará sendo oficializada a abertura da Semana Farroupilha em todos os pontos onde exista um gaúcho, não apenas no solo rio-grandense.
Hoje, por incrível que pareça, mesmo em Tokyo, em Manhatan, em Timbuctu ou no Tejo, no País Basco ou na Groenlâdia, onde houver um gaúcho, a centelha farrapa que ele gaúcho – ele e ela, na verdade, gaúcho e prenda – levam no coração, arderá com mais visibilidade para quem tem olhos de sentimento para com seu chão.
De resto. Começa hoje, com parcimônia para a gurizada, por favor.
Bons festejos neste acender de chama crioula que começa a se fazer tempo.
E Vivas ao Rio Grande!
“Mostremos valor constância…”
E, claro:
“Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra”.

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