O Caso Kliemann, meio século depois

Retorno, hoje, a Santa Cruz, para participar, à noite, da 2ª. Jornada Lia Pires, na Faculdade de Direito da UNISC, a convite do advogado Ezequiel Vetoretti, do Instituto Lia Pires.
Uma mesa-redonda vai debater o episódio que tanto marcou aquela cidade: o drama de uma família, motivo e razão do meu livro “Caso Kliemann, a história de uma tragédia”.
Lá estive muitas vezes, ao longo das pesquisas e creio que esta é a oportunidade ideal para prestar uma homenagem ao pesquisador Guido Kuhn, falecido muito moço. Ele foi, junto com o colega Ricardo Dürren e toda a equipe da Gazeta do Sul, colaborador prestimoso e essencial na pesquisa e na aproximação com tantos que contribuíram para o melhor resgate daquela história.
Guido era afável e generoso, como ser humano, e minucioso e preciso, como profissional. Seus colegas e sua família podem ter orgulho dele, por tudo quanto foi.

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Uma das perguntas mais recorrentes, em entrevistas ou em contatos pessoais, é sobre minha motivação para escrever aquele livro.
Preciso sempre voltar ao passado e ao início da minha carreira jornalística, há meio século.
Estava na redação do Diário de Notícias, em junho de 1962, quando ocorreu o assassinato da sra. Margit Kliemann, esposa do deputado Euclydes Kliemann. Havia ingressado no jornal em agosto do ano anterior, às vésperas da Campanha da Legalidade, portanto.
Embora vinculado à outra área da reportagem – política e cultura – acompanhei de perto a azáfama dos colegas do setor de polícia, na agitação incontida de buscar um “furo” nas investigações daquele crime que abalou Porto Alegre, Santa Cruz do Sul e todo o Estado.
A morte da bonita esposa do deputado Kliemann, com requintes de brutalidade e circunstâncias misteriosas, mobilizou a opinião pública, a imprensa e a classe política.
Era natural que assim fosse e até mesmo a então famosa revista O Cruzeiro deslocou para o Rio Grande do Sul repórter e fotógrafo para acompanhar o trabalho policial sobre aquele que ela chamou de “O Sacopã de Porto Alegre”, em referência a outro crime famoso, ocorrido no Rio de Janeiro.
Mais tarde, quando aconteceu o julgamento do vereador Floriano Peixoto Karan Menezes, o “Marechal”, autor do disparo que matou Euclydes Kliemann, ao vivo, na Rádio Santa Cruz, fui designado pelo Diário para acompanhar os trabalhos do júri.
As últimas palavras do deputado e o tiro que o derrubou foram repetidos à exaustão, a pedido dos advogados e do promotor. Parecia a todos que Euclydes emergia do meio da multidão acotovelada no Ginásio do Corinthians, dividida em dois blocos distintos: de um lado, partidários do “Marechal”, de outro, familiares e parceiros de Kliemann.
Sim, foi ali, naquele momento: disse para mim mesmo que aquela era quase uma obra de ficção. E que, um dia, eu haveria de escrevê-la.
Foi o que fiz.

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