Qual sua resposta?

O julgamento do Mensalão não vai dar em nada. Corrupto não vai para a cadeia. Esse é o mais puro reflexo do chamado sentimento de impunidade que as pessoas têm em relação àquelas que, no exercício de funções públicas, acabam acusadas de crimes. O maior colegiado da justiça brasileira está reunido no desenvolvimento do processo de julgamento de 38 indivíduos. Mas, nas ruas, até que o Supremo Tribunal Federal dê seu veredito, permanece o clima de desdém. É como se tivesse sido emitido um “ah, eu sabia…”, com tamanho desdém e desinteresse, que deixa pasmo o cidadão que não tolera essas circunstâncias. Claro, é esse mesmo cidadão que – mesmo não querendo admitir sua surpresa – afirma já “saber” tem evidente culpabilidade, pois é o mesmo que acaba aceitando uma “ajuda” de candidatos a prefeito e à vereança em períodos eleitorais. Ele pode cobrar? É relativo, em tese sim, mas sua moral permite? Claro, aqui são apenas figuras de linguagens, metáforas para confirmar que há uma verdade absoluta: a ausência dos cidadãos de índole e caráter do meio político, torna possível aos maus caráteres e vigaristas ocuparem os espaço e perpetuarem-se neles, para o bem próprio e o mal da pouco.

Todo mundo razoavelmente informado, sabia – ou, no mínimo, desconfiava – que há muito rolo há muito tempo nas relações de fornecimento para os governos e instituições públicas. O aclaramento de como são feitas as maracutaias confirma a máxima: “Não há corrupção sem corruptores e corrompidos”. O funcionário público honesto, entretanto, é quem mais acaba “pagando o pato”, pois é artigo raro em um ciclo em que o desonesto é a praxe. Em que pese ser fundamental separar o joio do trigo, permanece quase que impossível criar um filtro que possa estabelecer uma barreira entre um e outro, pois os braços do Estado, nesse aspecto, são amarrados.

A verdade é que está explicado o enriquecimento de alguns agentes que orbitam no entorno do setor público, nas últimas décadas. Imagine o leitor se os números apresentados nos meios de comunicação, pelo menos, parcialmente corretos, cada picareteada deixa pelo menos um milionário por vez.

Quem sabe não seja, realmente, esse julgamento – como vem sendo qualificado – o divisor de águas, pela tamanha repercussão, que faça com que a cidadania reaja, inclusive no meio empresarial – no caso citado, já acostumado às picaretagens. Brandas, as legislações para punir aqueles que se envolvem em fraudes do gênero acabam sendo desconsideradas e a “síndrome do não dá nada” instituiu-se, tornando-se vigente.

Para completar o exemplo daquele comercial de televisão, um institucional do próprio governo em que durante o descarregamento de uma carga de computadores para uma instituição, um funcionário diz para o outro: “A transportadora entregou computadores para mais”, sugerindo que seria possível pegarem os equipamentos já que “ninguém iria saber”. Em um jogo de câmera, é mostrado um fragmento da infância do outro funcionário devolvendo um lápis para uma colega de aula. “Como não, eu vou saber!” Foi a resposta do outro.

E qual será a resposta da cidadania?

 

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