O MTG e a Morte do Gaúcho

Enquanto o Movimento Tradicionalista Gaúcho discute a beleza em seus concursos, proíbe o uso de boina ou define por decreto quantos milímetros uma peça de roupa pode ter para ser gaúcha, a verdadeira cultura gaúcha morre aos poucos. Essas discussões ridículas no centro das atenções são sintomáticas do que está acontecendo: ou o MTG se reinventa ou vai matar o gaúcho rio-grandense.

No último fim-de-semana, os principais jornais do Rio Grande estamparam „notícias” sobre a importantíssima discussãao dentro do MTG, se a beleza como critério de escolha da primeira-prenda deveria ser abolida. Para a maioria dos rio-grandenses, trata-se da falta do que fazer de alguns extra-terrestres e que nada tem a ver com a vida deles.

Por causa deste rapto do gauchismo que ser gaúcho, hoje, tornou-se um capricho de gente de classe média ou alta que pouco se identifica com os valores gaúchos tradicionais, mas que no fim-de-semana se fantasia conforme o MTG manda e sabe de cor meia-dúzia de coisas de pouca utilidade. A maioria absoluta da população rio-grandense pensa que gaúcho é quem nasce no Rio Grande do Sul.

Devido a seu engajamento político a favor dos vencedores, o MTG tenta esconder a todo custo nossa origem platina, que é justamente o que nos faz diferentes. Tem problema com a boina e com o chiripá (e com a camisa de manga curta e com o lenco de outra cor etc.), mas parece não estar nem um pouco preocupado com o fato de o rio-grandese ser cada vez menos gaúcho, de nossas festas tradicionais serem substituídas pelas brasileiras, de o gaúcho rio-grandense não saber que não é o único no mundo e de quase todos os habitantes do Rio Grande não estarem nem um pouco interessados em participar do clubinho dos donos do gauchismo.

Se o MTG realmente tiver interesse em proteger as tradições do Rio Grande precisa reinventar-se já. Precisa apresentar a história gaúcha sob o ponto-de-vista do pangauchismo (o surgimento, a evolução e a influência mútua dos gaúchos no Rio Grande, no Uruguai, na Argentina e nas regiões lindeiras), precisa ver o gaúcho como uma etnia viva – e não como um ser do passado – e precisa abrir o seu clubinho a todas as classes e grupos do Rio Grande.

Se não fizer assim, como faz a ONG RS Livre (www.rslivre.com), o próprio MTG cravará a adaga que matará o gaúcho. 

Felipe Simoes Pires

Filológo pela Universidade Livre de Berlim

 

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