Rogério Mendelski

DILEMA ARGENTINO 

Sempre gostei demais da Argentina. É um país bonito, com paisagens exuberantes no seu pampa, na região da Cordilheira – Mendoza é linda e lá passei duas férias de julho na minha juventude – no extremo sul, na enigmática Patagônia e no sofisticado balneário de Mar Del Plata. Escreveria – quem sabe? – até um livro sobre minha paixão pela Argentina. As águas misteriosas de um azul profundo do Lago Nauel Huapi e a neve na Punte Del Inca são registros de imagens que jamais se apagarão do HD de minha vida. 

Como esquecer, por exemplo, uma viagem que fiz com os amigos viamonenses Haroldo Franco, José Paulo Oliveira e Tadeu Marques, nos anos 60, chegando de trem a Buenos Aires, depois do embarcar em Paso de Los Libres e acompanhar uma descida pelo Rio Paraná com a composição férrea sobre um ferryboat por seis horas? Em 1920, a rede ferroviária argentina tinha 47 mil quilômetros. Hoje, parece que se esboça uma recuperação lenta de uma linha férrea que já foi a 10ª do planeta. 

É a paixão pela Argentina que me faz acompanhar, na medida do possível, o que acontece por lá já que parece ser um carma de nossos vizinhos viverem crises cíclicas por culpa de seus governantes e políticos. Quando se imaginava que o dilema do dólar, por exemplo, tinha passado, aí está ele afrontando a inteligência dos argentinos pela proibição da compra da moeda norte-americana, em dinheiro vivo, por decisão da presidente Cristina Kirchner. 

Desde a semana passada, o governo não permite que o mercado livre de moedas estrangeiras com o alvo no dólar, seja movimento por pesos argentinos em espécie. Comprar dólar só com cartão de débito ou cheque e com isso o governo fiscaliza quem busca pela moeda do Tio Sam. 

Com a medida, apenas 30% dos argentinos poderão comprar dólares, pois uma maioria de 70% da população não possui contas bancárias, ainda desconfiada do seu sistema bancário que tanto aprontou sobre a poupança de nossos vizinhos. Dólar só em última necessidade (viagens com apresentação da passagem ou doações para vítimas de catástrofes naturais). Aquele hábito do argentino de fazer poupança em dólares está suspenso. 

O governador da província de Córdoba ( a mais importante depois da província de Buenos Aires), José Manuel de La Sota, criticou com ironia as medidas restritivas de Cristina Kirchner: “É mais fácil tirar um documento para trocar de sexo do que comprar dólares. Te pedem até atestado de vacina antivaríola de sua avó”. Numa entrevista ao canal 12 de Córdoba, de La Sota, além da ironia, aproveitou para afirmar que “quando há problemas para comprar dólares é porque algo não anda bem”. 

E nada anda bem na Argentina. O dólar foi cotado, nesta quarta-feira, no câmbio paralelo a 6,75 pesos o que significa para nós brasileiros que com um real você pode comprar 3,30 pesos. Isso explica a grande presença brasileira na Argentina desfrutando de mais uma variação cambial a nosso favor. Durante o regime de Carlos Menem, com a equivalência do peso ao dólar, os argentinos invadiam o Brasil nas férias de verão e por pouco não compraram todos os imóveis de Canasvieiras, Jurerê e Camboriu. Com um peso, um turista argentino comprava três reais. 

DAME DOS 

Foi-se o tempo em que os argentinos, cheios de dólares, vinham para o Brasil e tão de barato tudo o que encontravam já iam dizendo aos balconistas de nossas lojas “dame dos”. Hoje, além de inverterem-se as situações, os brasileiros dizem o mesmo nas lojas argentinas, mas com um obstáculo apenas: as prateleiras do comércio argentino começam a ficar sem reposição pela política de restrição às importações e pela desaceleração da economia argentina. 

POUPANÇA NO EXTERIOR 

Mas vale lembrar, por último: a poupança dos Kirchner no exterior, dizem que é considerável e de origem duvidosa por causa de alguns negócios imobiliários feitos ainda por Nestor Kirchner quando era governador da província de Santa Cruz. Pelo menos, tal denúncia está nos discursos da oposição. 

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