Antes heróis, hoje quase aposentados

Orelhões perdem espaço para a telefonia móvel e outras formas de comunicação

Eles foram verdadeiros salvadores, anjos, se é que podem assim ser considerados, nas mais variadas situações. Foram visados, alvo de ferrenhas disputas, críticas e, em alguns momentos, serviram de painel para a confecção de verdadeiras obras de arte.

É bem verdade que durante muito tempo eles também foram alvo da ira de cidadãos desprovidos do real sentimento do que é viver em comunidade e receberam ataques ferozes, destruidores, capazes de levá-los ao solo, muitas vezes os retirando de combate ou, no termo quase em desuso para estes casos, retirados de operação.

Os orelhões, valentes que resistem ao tempo, enfrentam a difícil concorrência de uma vida que anda cada vez mais depressa, pede muito mais mobilidade e encontra um mercado com uma farta oferta de outros meios de comunicação. Quem um dia não se deliciou durante horas utilizando o telefone público, popularmente chamado e carinhosamente apelidado de orelhão, para matar a saudade de casa, de um amigo ou de um amor? Quem não precisou correr para o aparelho durante a madrugada para pedir auxílio, dar a nota triste de um falecimento ou repetir aos gritos a felicidade do nascimento de um filho? Se pudessem falar, certamente os orelhões teriam muito mais a contar do que aqueles que não se cansaram de usá-los.

Hoje, com uma redução de 45% na sua utilização em Sant’Ana do Livramento, de acordo com os dados repassados pelo setor responsável pela manutenção do equipamento na cidade, os orelhões certamente sofrem calados à espera de alguém que possa lhe fazer um afago através da voz. Confidentes, muitas vezes confessionário, têm armazenado na sua estrutura silenciosa, segredos que ouviram e não puderam contar para ninguém. Os orelhões, praticamente esquecidos e quase substituídos pelas novas tecnologias insistem em resistir ao tempo e ainda prestam o seu serviço a quem deles precise.

Redução

Atualmente, Sant’Ana do Livramento conta com 430 aparelhos instalados nas mais variadas ruas dos bairros e região central da cidade, além de repartições e escolas. Durante toda a sexta-feira, a reportagem de A Plateia tentou, sem sucesso, flagrar pelo menos um usuário deste tipo de serviço pelas ruas centrais da cidade. Como resultado, um verdadeiro desfile de pessoas utilizando o conforto do aparelho de telefone celular sem ao menos pensar em chegar perto de um orelhão. Mesmo assim, com redução na sua utilização, ainda são geradas algumas reclamações no setor responsável, em número muito menor do que em outros períodos, o que comprova que os usuários estão mesmo optando por outras formas de comunicação.

As ações de vândalos também foram reduzidas, uma prova do desinteresse pelo equipamento que já foi alvo de incêndios e frequentemente tinha algumas de suas partes arrancadas, o que gerava prejuízo para as empresas de telefonia.

Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

 

 

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