Eles são os Guardiões do Templo

Eles impedem que objetos valiosos permaneçam exatamente onde foram colocados para a adoração

Com as bênçãos do Padre Ézio, pároco da Igreja Matriz de Sant’Ana, e dos fieis, que viram as portas serem reabertas permitindo que todos possam fazer, em segurança, as suas orações e pedidos, e com pleno apoio de boa parte da comunidade, os Guardiões do Templo, figuras que fazem um verdadeiro plantão na porta da casa santa, revezam-se garantindo a segurança de quem precisa adentrar no local. Eles impedem que objetos valiosos, alvos de ladrões no passado não muitos distante, permaneçam exatamente onde foram colocados para a adoração. Assim, os cinco guardiões passam os dias percorrendo os corredores de um dos maiores símbolos da fé cristã em Sant’Ana do Livramento, cuja história se confunde com os atos de criação do próprio município.

A guardiã Daniele Nascimento integra o grupo que tem a missão de receber os fiéis e cuidar da segurança na Igreja Matriz

A missão

Um sorriso aconchegante, fala macia, o tradicional “sejam bem-vindos” e a segurança necessária para todos que frequentam a Igreja Matriz são percebido logo na chegada, com a presença de uma das integrantes da chamada Legião de Maria. Daniele Nascimento, 30 anos, uma das guardiãs, orgulha-se da atividade que realiza de forma voluntária e se diz satisfeita com o fato de poder ver a igreja sempre com as portas abertas, fato que durante muito tempo não ocorria, em função dos roubos. “A nossa legião faz outras ações, como visitas à Santa Casa, Lar de Meninas, visitas domicilares aos enfermos e esta missão aqui na Igreja. Trabalhamos para o bem-estar da comunidade”, conta ela. Segundo Daniele, a proposta de permanecer na Igreja Matriz se deu em função do incômodo gerado pelo tempo que o local ficava fechado, o que desagradava fiéis e turistas. “Ficamos geralmente em pares, quando é possível, e em outros momentos cada um de nós permanece aqui em turnos de duas horas. Tem muito movimento, as pessoas vêm bastante à Igreja, mesmo com chuva. Em média, são cerca de 60 pessoas que visitam, e, para isso, o local precisa estar com as portas abertas”, conta ela, entre a recepção de um e outro fiel e o repasse das informações à reportagem. De acordo com ela, o trabalho já tem cerca de dois anos, sem que nenhuma ocorrência tenha sido registrada. “Agora, para quem tem a intenção de furtar ou roubar objetos do interior da igreja, ficou muito mais difícil”, revela. Questionada sobre o prazer que sente com a atividade, a guardiã fez questão de mostrar a sua satisfação. “Eu me sinto muito bem. É sempre bom acolher as pessoas aqui. Eles se sentem gratos, tranquilos, porque sabem que ninguém vai entrar atrás para tentar alguma coisa. Todos agradecem a nossa presença. As situações estranhas que já tivemos foram rapidamente interceptadas. Temos um colega que estava aqui na hora em que dois meninos tentaram furtar. Ele impediu e ainda conseguiu chamar a Brigada Militar. É lamentável ter que ter guardas na Igreja, mas estamos fazendo a nossa parte”, destacou. À tarde, Sebastião Paz Mezera, 67 anos, já havia subistituído a guardiã da manhã, Daniele, e os fiéis continuavam a entrar na igreja. Voz calma, paciência, sabedoria de quem já viveu longos anos, Sebastião diz que a se gurança no local é imprescindível. “Temos que estar atentos para que não hajam danos ao local. Tem muitos que já tentaram fazer, inclusive, perversidades (sem dar maiores detalhes), e precisamos prestar atenção para não permitir que isso ocorra. Sinto-me muito bem e feliz por estar fazendo esse trabalho, sabendo que as pessoas estão seguras, assim como todo este patrimônio”, frisou o guardião, que tem a palavra “Paz” no seu sobrenome, uma mera coincidência para alguns, mas que revela ser atribuído à pessoa certa.

Padre Ézio

Com a palavra, o Padre

Do alto dos seus muitos anos de sacerdócio, o Padre Ézio, reponsável pela Paróquia de Sant’Ana e que recebe os fiéis na Igreja Matriz diariamente, diz que a medida tem auxiliado as pessoas a estarem mais perto do local sagrado. “É uma coisa muito triste pensar que algumas pessoas não respeitam mais os lugares sagrados. Anos atrás, ninguém pensava que poderiam invadir a Igreja. Infelizmente, a fé está diminuindo no povo, e isso pode ser uma das causas que fomentam a insegurança. Dados recentes apontam para uma redução no número de ateus e o aumento do número de indiferentes. Então, em vez de colocar alarmes, optamos por colocar as pessoas que recebem a comunidade com carinho e ainda ajudam a manter o local mais seguro”, disse o Padre, ao receber a reportagem na Casa Paroquial. Para o Padre Ézio, as visitas que são realizadas durante o dia na Igreja estão mais tranquilas. “Sinto que as pessoas sabem que podem ir ali rezar sabendo que estão mais seguras. O local ficou também mais humano, uma vez que não é um alarme, mas sim pessoas que estão ali se revezando e ajudando as demais pessoas a vienciar a sua fé”, conta o Padre, que diz que quando a ideia foi implantada houve concordância geral.

O pároco conta que, em cidades como Santa Maria, já existem equipes organizadas de seguranças que se revezam a cada quatro horas. “Aqui, aqueles que cooperam com a igreja também estão mais tranquilos, sabendo que a sua ajuda ficará segura”, revela sasisfeito o Padre da Igreja Matriz.

Por Cleizer Maciel
cleizermaciel@jornalaplateia.com

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