A legítima emoção

Existem algumas profissões que permitem protagonizar a história, outras, registrá-la, da forma como acontece. O jornalismo, seja no rádio, na TV ou impresso, é uma dessas últimas, em que fica evidenciado ao mesmo tempo o testemunho ocular e, simultaneamente, a transmissão desse momento único de compartilhar a história, não como protagonista – de certo modo também assim – mas como elemento de ligação de um a outro extremo. É no jornalismo que se percebe o fluxo de emoções que percorrem momentos, atos, palavras, a cada segundo.A inauguração oficial do complexo eólico Cerro Chato marcou por alguns episódios que caracterizam os bastidores, os quais são tão ou mais valiosos do que aquilo que vai a público, por traduzirem o sentimento arraigado que está presente nas pessoas que participam de uma realização. A cobertura da RCC FM e A Plateia, cujas equipes permaneceram desde as 9h da manhã até o fim da jornada, ouvindo entrevistas e transmitindo, registrando fotos, permitiu isso e a tentativa foi dividir tais momentos com o ouvinte-leitor. Um dos primeiros a chegar à estrutura montada no complexo, o engenheiro Ronaldo Custódio, concedeu uma entrevista, recordando em partes sua trajetória e, em deteminado momento, Duda Pinto e Henrique Bachio perceberam uma lágrima de emoção brotar do olho direito do santanense, que é o grande responsável por essa realização. Esses são os bastidores de uma entrevista, a visão privilegiada que os jornalistas têm e compartilham quando se trata de uma realização tão significativa e, não haveria como não ser emocional; pois, diante do fato, fica muito claro o motivo pelo qual Ronaldo Custódio desejou fazer por sua terra. Passou um filme, ao longo da entrevista, ao falar da rejeição inicial, da desconfiança daqueles que não permitiram que ele colocasse estações de medição de vento em suas propriedades, do apoio do pai, associada à visão grandiosa dos aerogeradores encimando suas torres encravadas na pampa, com um céu nublado de outono, um chuvisco e o sopro constante e frio do vento. O governador Tarso Genro protagonizou outro momento, ao recordar de sua estadia na Fronteira, quando morava em Rivera e dava aulas, frequentava o Sabô e, mais uma vez, ao reencontrar um querido amigo, o advogado santanense Antonio Apoitia, recordar que este atravessava a linha divisória para levar comida para o então exilado Tarso. O governador recordou, ainda, o período em que escrevia artigos para o Correio do Povo e o jornal A Plateia.A vibração, com os braços esticados, do secretário de governo Afonso Motta, quando foi oficializada a inauguração é outro momento que torna-se visível para quem registra. Seja para a lente do fotógrafo, a visão do jornalista-radialista.É o ponto positivo de quem torce pelo êxito, deseja o sucesso, mas, ao mesmo tempo, constata-se impossível de registrar tudo, ouvir a todos, constatar tudo, pois mesmo que alguns se acreditem, não há onisciência, nem onipresença. Registrar a história é uma missão nobre, porém, ao mesmo tempo, inglória – no bom sentido – pelos momentos que passam despercebidos, pelos acontecimentos que não foi possível presenciar, seja por questões de tempo, ausência, entre uma infinidade de outros motivos.Diante desses entendimentos, que são diários na profissão, fica evidente que o jornalismo evidentemente é uma das mais humanas profissões, por tratar diretamente com os elementos mais peculiares da própria humanidade, senão a mais humana das funções sociais.E, justamente aí, efetivamente aí, está seu valor.

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