Que dizer?

No Brasil de hoje, existe um conjunto enorme de informações sobre fatos que desrespeitam radicalmente a dignidade humana, e é importante que a indignação que hoje sente o cidadão brasileiro desencadeie uma ação ética que nos leve a arguir o que podemos fazer para que essa indignidade tenha cabo. Indignação é um sentimento que brota naturalmente, uma espécie de revolta interior diante de algo que parece inaceitável.

Que dizer de crianças sendo molestadas por adultos próximos – alguns mesmo com graus de parentesco? Que dizer de vítimas de assalto ou policiais permanecerem dando informações em uma central de polícia, enquanto marginais voltam à rua?

Que dizer de jovens, pré-adolescentes e adolescentes, formando quadrilhas de vandalismo e agressão, fazendo agressões a pessoas normais em plena tarde movimentada no centro de uma outrora pacada cidade?

Indignidades.

Sem que exista reação de parte da autoridade estatal, atribuindo às leis, aos números, aos políticos, a tudo quanto é desculpa a impossibilidade de tomar uma atitude que possa coibir situações como essas.

Indignação é salutar quando contempla a dignidade de todas as pessoas na sociedade. A palavra “indignação” refere-se à dignidade negada ou agredida, com a consequente revolta.

Mas a justa indignação pressupõe capacidade, ou seja, percepção do que é digno para si e para as outras pessoas e requer a cristalização na consciência da dignidade a que cada pessoa humana tem direito.

Quem não tem essa percepção não é capaz de indignar-se e, assim, diante de coisas graves, mantém-se passivo. Como passiva é a mãe que, ciente, permite que o padrasto ou mesmo o pai abuse de uma criança.

Não tem senso de dignidade.

Compartilhar situações indignas sem reação também é uma forma de compactuar, pois há informação suficiente, no mundo moderno, para alertar e prevenir.

As ações dependem muito do que as pessoas fazem com as informações. Depende, também, da livre informação – e a transparência pública é essencial nesse sentido. De todo, fundamental se faz a informação, pois é esta que mostra como a dignidade está sendo tratada. As restrições à liberdade de informar e a desinformação ideológica levam ou à passividade ou à indignação injusta. Parece justamente esse o contexto que vem marcando os últimos tempos no Brasil da política corrupta, que vem desde antes, muito antes dos anões do orçamento. Quem se opõe à corrupção e aponta responsáveis na atualidade está sob risco, pois os poderes não gostam de críticas, mesmo quando as manifestações sociais são legítimas. Dilma Rousseff, por exemplo, está dando aula de indignação e quer popular a informação, mesmo que alguns grandões de Brasília não desejem.

As manifestações setoriais, pela ética, pela ordem, são importantes porque sugerem que a não conformidade com a indignidade apenas quando os fatos atinjam mais de perto cada indivíduo.

Aceitar que tudo fique como está é ofender a própria nação. Ademais, manifestar indignação é também uma forma de mostrar a fé no correto, no crer: o próprio Jesus derrubou as mesas do templo e pegou um chicote para manifestar a sua indignação diante da profanação da casa de oração, que se tinha transformado em uma espelunca de ladrões.

Permanecer passivo e resignado diante do mal e da injustiça não é misericórdia nem mansidão, mas covardia, ou, desinteresse, no mínimo, inépcia.

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