Não pode ser idéia de Lula

Tenho dificuldade em acreditar nas versões – bastante difundidas – que indicam ter sido o ex-presidente Lula o grande inspirador das primeiras ações da CPMI de Carlinhos Cachoeira.

Lula é um político reconhecidamente hábil e disso deu inúmeras provas ao longo de seus dois mandatos. Ninguém chega até onde ele chegou por acaso ou por sorte. É competência, antes de tudo. Entre os jornalistas da área, ele é chamado de “animal político”, aquele que é estimulado de forma visceral pela prática política.

O pretexto para a ação de Lula seria um só: atrapalhar o julgamento do “mensalão”. Quer dizer: a CPMI teria a capacidade de desviar o foco do Brasil e dos brasileiros do esquema de corrupção comandado – segundo o Procurador Geral da República – pelo ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Para isso também seria necessário desmoralizar a capacidade mobilizadora da imprensa.

A ideia da convocação, pela CPMI, de Roberto Gurgel, Procurador Geral da República, na tentativa de intimidá-lo – ele vai ter cinco horas para acusar os responsáveis pelo “mensalão” – foi um desastre. Ministros do Supremo Tribunal Federal colocaram-se imediatamente na defesa de Gurgel. E acabou que a solução encontrada foi o envio de um ofício com cinco perguntas, a serem respondidas também por escrito.

Nada pior, no entanto, que o embate com a imprensa.

Diálogos envolvendo o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, serviram de pretexto para que os eternos inimigos da liberdade de imprensa e, por extensão, da própria democracia, levantassem suas vozes para denunciar um conluio entre órgãos de comunicação e contraventores.

Antes mesmo que os dois primeiros delegados da Polícia Federal depusessem, “blogs e veículos de imprensa chapa-branca que atuam como linha auxiliar de setores radicais” do partido do governo, como denunciou o jornal O Globo, mobilizaram-se numa campanha organizada para denunciar a revista.

Ocorre que o depoimento dos delegados frustrou as expectativas de deputados e senadores da CPMI, entre eles o ex-presidente Fernando Collor, um dos mais raivosos combatentes da revista, mesmo se dizendo defensor das liberdades.

Não esquecer, a propósito, que foi uma entrevista bombástica do seu irmão, Pedro Collor, à mesma revista, em que denunciou o esquema corrupto de PC Farias, o início dá derrocada do ex-presidente e hoje senador.

O que revelou a Polícia Federal?

O jornalista Policarpo Junior trocou telefonemas com Cachoeira apenas em busca de informação, dentro dos limites legais e em benefício do interesse público.

A CPMI foi obrigada a recuar. O próprio José Dirceu já teria revelado que “o efeito foi o contrário do imaginado”: a única consequência foi acelerar o processo do mensalão.

Isso tudo não deve ter sido idéia de Lula, definitivamente.

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