Gaúcha Debates discute alternativas para recuperar nível de desenvolvimento local

Lasier Martins provocou lideranças de Livramento a pensarem a realidade do município etrocar opiniões sobre ações necessárias para alcançar média de crescimento do RS e Brasil

Um público estimado de 400 pessoas acompanhou, na noite de ontem, no Verde Plaza Eventos, anexo ao Clube Comercial de Livramento, mais uma edição do programa Gaúcha Debates do Rio Grande, realizado pela Rádio Gaúcha. Apresentado pelo jornalista Lasier Martins, o programa reuniu para o debate sobre as dificuldades e potencialidades do município e região o presidente da Associação Comercial e Industrial de Livramento-ACIL, Sérgio Oliveira, o presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Região da Campanha, Afrânio de Moraes, o empresário rural Atílio Ibargoyen, integrante do Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social, e a reitora da Universidade da Região da Campanha-Urcamp, Lia Maria Herzer Quintana.

Desde 2009, o programa Gaúcha Debates do Rio Grande vem discutindo as potencialidades dos municípios gaúchos. Em Sant’Ana do Livramento, o programa realizado na noite de ontem foi a segunda edição, e possibilitou que diferentes opiniões sobre as carências e potencialidades do município fossem confrontadas. Além das exposições feitas pelos debatedores convidados, Lasier Martins abriu o debate também para a participação do público presente, ouvindo análises de representantes de vários segmentos, em especial ligados à área da educação, ao setor empresarial, à Administração Municipal e ao Legislativo local.

O programa teve início pontualmente às 20h, e foi transmitido ao vivo e na íntegra pela rádio RCC FM. Os salões do Clube Comercial tiveram os 450 lugares disponibilizados praticamente esgotados, já a partir do início do evento, por um público composto principalmente por estudantes universitários. Os debatedores fizeram, inicialmente, uma análise da atual matriz econômica e das alternativas que acreditam possíveis para recuperar o nível de desenvolvimento que Livramento já teve, em especial com relação aos números do PIB. Essa análise contou, também, com o embasamento técnico proporcionado por uma exposição feita pelo secretário executivo da Agenda 2020, com um diagnóstico social e econômico de Livramento.

Os participantes discutiram sugestões de investimentos que poderiam ser feitos para estimular o crescimento econômico e social, através da produção de riquezas e da geração de novas vagas de trabalho. Entre as diferentes alternativas sugeridas, estão o fortalecimento do comércio, a possibilidade de implantação de lojas free shop em busca do equilíbrio com Rivera, que comercializa em torno de R$ 2,5 bilhões para consumidores brasileiros, as potencialidades turísticas favorecidas pelos usos e costumes locais, o enoturismo e a produção vitivinícola, a exploração da qualidade genética no setor primário, a implantação da cadeia produtiva do leite e da carne e o estímulo ao associativismo. O volume de sugestões feitas pelo público presente chegou a levar o apresentador a definir Livramento como “um município que tem muita riqueza na sua pobreza”.

O evento se estendeu até às 22h, quando Lasier Martins convidou os participantes da bancada principal a fazerem uma análise final e ele próprio, após, conclamou as lideranças locais à formação de um grande grupo de trabalho, suprapartidário ou apartidário, para a busca de alternativas concretas para o desenvolvimento do município. Sugeriu ao presidente da ACIL, Sérgio Oliveira, que a própria entidade, pela representatividade que possui, organize esse grande encontro. A produção do programa convidou lideranças presentes para entregarem placas de reconhecimento aos debatedores convidados e, na sequência, Lasier Martins pediu ao público que desse uma nota ao debate realizado, tendo a maior parte dos presentes dado nota entre 7 e 10 para o nível do debate.

Debatedores e plateia interagem propondo soluções e opinando sobre vários aspectos

Empreendedor do turismo rural, conselheiro de Estado, Atilio Ibargoyen fez uma avaliação específica, lamentando que a região não tenha vocação para o associativismo e o cooperativismo, destacando que são estratégias que poderiam ser utilizadas para reduzir as diferenças existentes, considerando também sobre a necessidade de mudanças culturais. Enfatizou a convicção em algumas potencialidades agregadas ao meio rural, destacando que energia, reativação da rede ferroviária, bem como vitivinicultura e olivocultura, além dos ovinos são segmentos que registram crescimento, porém, precisam de estímulo e empreendedorismo. Ibargoyen prega a aglutinação de esforços para aumentar a representatividade regional e fortalecer as cadeias produtivas agregando valor.

 

 

 

 

Lasier Martins apresentou suas conclusões afirmando que é fundamental um comando na mobilização da comunidade santanense, como forma de mobilizar toda a coletividade nas ações necessárias para implementar a prática desenvolvimentista. O vinho e a energia eólica, conforme deixou claro, foram – ao que foi apanhado – os dois únicos segmentos em que foram registrados avanços. O jornalista da Gaúcha foi pontual ao afirmar que os debates foram importantes, porém, liderança é o principal elemento a ser apontado para Livramento superar suas dificuldades, o mesmo valendo para os aspectos regionais. O apresentador do Gaúcha Debates do Rio Grande deixou clara também a necessidade de associativismo, especialmente nos ambientes políticos, pois há uma série de potencialidades que podem e devem ser desenvolvidas, mesmo que seja necessária a busca por recursos externos, seja junto às instâncias públicas seja no segmento empresarial nacional.

 

 

 

 

O empresário Sérgio Oliveira, presidente da Acil destacou os números negativos que traduzem uma realidade local a qual precisa ser melhorada. Destacou a necessidade de unir esforços independente de bandeiras setoriais ou políticas eleitorais, destacando a necessidade de agregar valor e confirmou haver uma carência de lideranças representativas com potencial de aglutinação. Fez várias referências aos problemas históricos da fronteira e concordou com Lasier Martins quando este evocou a necessidade de líderes comprometidos com o associativismo. Oliveira também deixou sua convicção de que é preciso um choque – fazendo alusão a um episódio hilário envolvendo Lasier,  há anos atrás- para descontrair na mensagem final, ressaltando a preponderância de seriedade nas ações e a ênfase na cobrança de soluções profissionais, como princípios válidos para toda a comunidade.

 

 

 

 

Por duas vezes aplaudido pelo público, o engenheiro agrônomo Afrânio de Moraes Filho enfatizou que Livramento não é uma terra sem oportunidades. Disse que apesar do empobrecimento que caracterizou os municípios da região nas últimas décadas, há enormes potencialidades locais que sequer foram exploradas. Disse que está há 10 anos em Livramento e sustenta: “Esta é uma terra de oportunidades, mas as pessoas daqui precisam perceber isso e trabalhar para desenvolvê-las”. Segundo o executivo e presidente da Associação dos Vinhos da Campanha Gaúcha, falta que as pessoas de Livramento percebam essas potencialidades. “As pessoas que vêm de fora enxergam muito claramente e trabalham para firmar-se, conseguindo êxito em seus empreendimentos” – disse ele. Afrânio salientou que não deve haver negativismo, enfocando que o turismo é um segmento importante, pois ao natural a Fronteira registra a presença de 20 a 30 mil turistas, prontos para usar serviços.

 

 

 

A reitora da Urcamp, Lia Quintana, enfatizou que a universidade está focada na capacitação técnica, destacando, por exemplo, os cursos de engenharia – presentes nos campus de Livramento e Bagé. Confirmou que a instituição está atenda à realidade vivenciada em nível nacional: a carência de profissionais de nível superior na área de engenharia. A reitora também destacou a importância do processo de construção educacional com fulcro na especialização, afirmando que a Urcamp está não apenas inserida, mas comprometida de pleno com o desenvolvimento da região. Disse acreditar que essa é uma alternativa de possibilidade efetiva para a região empobrecida, e que não registrou o desenvolvimento industrial até em função de legislação que não permitia a instalação de indústrias de porte nas regiões de fronteira – uma determinação do governo militar. Também afirmou que as potencialidades regionais precisam ser trabalhadas de forma coletiva pelas comunidades e a Urcamp é aliada.

 

 

 

O diretor executivo da Agenda 2020, Ronald Krummenauer, fez uma apresentação de números que preocupam.  Focou em cinco desafios, sendo o primeiro deles a educação, em que Livramento está abaixo da média nacional em desempenho. Revelou dados da Firjan, que também enfocou a necessidade de aumentar a inovação nos empreendimentos locais, bem como um elemento positivo, em saneamento – coleta e tratamento, setor em que a cidade está acima da média gaúcha. Já com relação à saúde, Krummenauer confirmou que os valores per capta investidos em Livramento estão entre os menores da região, algo que precisa ser corrigido.

 

 

 

 

A geóloga Bibiane Michaelsen, supervisora ambiental da Usina Eólica Cerro Chato, opinou que o problema central registrado em Livramento não é a falta de empregos ou vagas para geração de renda, mas sim a falta de qualidade e capacitação no segmento de serviços. Para ela, é essencial, visando o desenvolvimento sócio-econômico e a geração de renda, promover a qualificação dos cidadãos para disponibilizar essa mão de obra aos segmentos em que há carência. Outro elemento que a geóloga julga extremamente interessante é reciclar a Fepam para que os processos de licenciamento ambiental dos projetos demorem menos, sem prejuízo da finalidade essencial.

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