A quem cabe

Os governos federal e estadual não parecem ter percebido a gravidade da situação dos atingidos pela estiagem prolongada, ou, no popular, seca, registrada de 2011 para o início de 2012. Não cabe aqui ponderar sobre quantos dias sem chuva ou precipitações abaixo da média histórica. O fato é que tem gente, ao redor do município de Livramento, que não tem água para beber, sequer para dar aos animais. Há relatos de produtores em propriedades de pequeno porte que acusam até 50% de redução na produtividade leiteira e, observe o leitor, o município é prodígio em número nesse segmento da pecuária de pequena escala. A anomalia, mesmo de origem natural, trouxe prejuízos significativos em relação à produção primária, sim, porém não são prejuízos que o próprio clima possa compensar. Isso é fato, ao mesmo tempo em que é real também a desatenção sobre as questões das dívidas dos agricultores e pecuaristas de pequeno porte, bem como dos assentados, que estão realizando novas manifestações, inclusive trancando rodovias federais.

O dinheiro que a União endereçou ao Estado certamente – como ocorre em todas as situações – é algo ínfimo em comparação com o dinheiro enviado ao nordeste do País. Não que se faça um comparativo entre uma e outra situação, ou mesmo o número de atingidos. Não é esse o ponto. Tampouco vale relembrar aqui a pequena representatividade política de municípios da fronteira oeste em Brasília. Livramento, por exemplo, não tem sequer um deputado que tenha obtido sua eleição na maioria dos votos, aqui pela cidade.

A questão é que os cálculos parciais da perda de safras no município, e isso vale para vários outros no Estado gaúcho, considerando o número de produtores e assentados atingidos e, nestes, os valores dos prejuízos, fica evidente que o que há de recursos é bem abaixo do necessário para encaminhar solução para o problema. Afinal de contas, vale lembrar que o capital contraído a título de financiamento nos bancos, é um dos mais caros do mundo, levando-se em conta os juros praticados – mesmo tendo ciência de que são juros diferenciados – e, em que pese a sábia decisão da União de reduzir os juros no canetação via Caixa e Banco do Brasil, exemplo seguido pelo Banrisul em âmbito estadual.

Na BR 158, Via Campesina e o MST e seus militantes, com assentados nas circunvizinhanças, fazem protestos, impedindo o trânsito em determinados horários, após terem ocupado a coordenadoria regional da SDR estadual. Em várias outras localidades espoucam mobilizações do gênero que, na prática, não são contra o governo federal e o governo estadual, mas sim buscando destes soluções efetivas, duradouras, para que em estiagens e secas vindouras, seja possível debelar os prejuízos. A exemplo do que ocorre com outras entidades que congregam agricultores familiares, pequenas cooperativas, pecuaristas familiares, associações de produtores de pequeno porte, a mobilização não tem o sentido de ser contra, mas sim a favor da produção, do país, do desenvolvimento humano e da produção de alimentos.

As políticas que deveriam existir, são, no mínimo, ainda não são abrangentes quando se trata do setor agropecuário. A comprovação disso está chancelada quando ocorrem circunstâncias de prejuízos culturais ou fenômenos naturais causando catástrofes.

O Brasil pode, e deve, se tornar o maior produtor e fornecedor de alimentos do planeta, mas os agentes políticos detentores de mandatos eletivos e cargos de confiança precisam tomar conhecimento pleno dessa realidade, pois depende exclusivamente deles, o encaminhamento de possibilidades de soluções. Não há mais espaço, nem tempo para paliativos, retórica, falácia, defesas apaixonadas de planos e projetos que, no papel, são maravilhosos, mas detem pouco alcance prático.

Se a pergunta é: a quem cabem as decisões?

Fica evidente que a resposta é: a quem detem o poder emanado do povo e, em seu nome, precisa ser exercido.

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