Análise pretensiosa

A busca pelos holofotes se tornou comum. Querer ser celebridade, mesmo não tendo conteúdo para tanto, é uma vontade cada vez mais emergente. Faz parte do traço vaidoso das pessoas, em uma terra onde ser o pai da criança, mentor da ideia, o autor intelectual (ou quaisquer outros similares) acabou sendo mais importante do que concretizações, definições, soluções. Mais vale uma semana de mídia, falando sobre um assunto, do que um efetivo e concreto ponto final em determinada questão. Esse é o pensamento corrente, sob aquele bom e velho dito: “não quero aparecer”.

O problema é querer ser pai da criança sem que ela cresça, mentor da ideia sem que esta vingue ou autor intelectual de um paliativo.

Diziam os mais antigos nesta terra de Sant’Ana: “Que vontade tem o porco de voar…” E, por fim, acaba se chegando a conclusão de que por trás de frases como a já citada está o desejo tremendo, imenso de ser fotografado e ter o nome mencionado, ser paparicado, etc… Por trás do ataque a outrem está o despeito, a necessidade de que “falem de mim, bem ou mal, mas falem de mim (por favor…)”. Por trás do “não leio isto, não ouço aquilo”, com ar de desdém, estão o incomensurável desejo de elogios fúteis e a frivolidade do se achismo, para utilizar uma gíria da moda.

A vaidade cega subtrai o bom senso, nos afasta da realidade e do que é possível para nós. A vaidade nos afasta da reflexão útil e leva cada um a querer ganhar discussões, mesmo que esteja ciente de que não pode vencer pela ausência de razão, no mínimo.

O ditado popular sugere que elogio em boca própria é vitupério, mas se tornou um lugar comum. Indesejável, improcedente, frívolo, mas comum. Está no pensamento, naquilo que não é dito, mas é perceptível pelas atitudes. É a famosa cortesia com o chapéu alheio de que falam os ditos do pago santanense.

Há situações das mais diversas no contexto da vaidade. Inclusive na falácia, é possível contextualizar essa realidade que, no exercício da coisa pública, por exemplo, pode ser um elemento complicador em todos os sentidos. Por exemplo, nos debates e discussões políticas, por vezes, há o apelo à vaidade, uma falácia lógica que se vale da vaidade do interlocutor para buscar apoio em uma discussão. A adulação é normalmente usada para esconder a verdadeira intenção de uma proposta, causando um momento de distração e enfraquecendo o raciocínio crítico do interlocutor. Pode ser vista como uma forma astuta de argumentum ad consequentiam, onde a consequência é a interrupção da adulação e de apelo à emoção. É também muito utilizada no cotidiano, no dia a dia das pessaos, mesmo sem que tenham conhecimento de seu uso, mas beneficiando-se de seus efeitos. Especialmente em períodos como o que está prestes a iniciar, o das definições partidárias e, mais adiante, a campanha política. O grande problema desse cotidiano é que as pessoas se tornaram buscadores dos 15 minutos de fama, esquecendo-se da notoriedade que a concretização de um projeto ou a conclusão de uma ação traz.

Pervertida a lógica, as coisas não acontecem, afinal de contas, a síndrome do papagaio de pirata acabou se propagando em demasia, sofrendo mutações a ponto de contaminar uma significativa parcela da população, com força ampliada.

A questão, na prática, não é quem, mas o que. Nesses tempos de dificuldades econômicas, não devem haver pedestais e os cérebros deveriam queimar seus cerebelos pensando em soluções e alternativas para melhorar a coletividade, não em como projetar seu próprio ego.

 

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