A oposição que não se ajuda

A oposição não se ajuda.

Quer dizer: a oposição não ajuda o Brasil.

É bom lembrar: a existência de um grupo de opositores ao governo – seja qual for o governo – é essencial para o perfeito funcionamento do processo democrático.

No Brasil, nos últimos tempos, praticamente não há oposição.

Já registrei em comentário anterior: a sensação que se tem é que nenhum político brasileiro está à vontade em posicionar-se contra o governo.

Ao contrário: o que parece acontecer é um desejo contido e muitas vezes mal disfarçado de adesão.

Ficar longe do poder, distante das benesses que podem resultar da proximidade daqueles que liberam verbas, ou não ter perspectiva de indicar para um cargo o apadrinhado, isso tudo faz muito mal a certos políticos.

Assim, deve-se pelo menos entender o sr. Gilberto Kassab. Desejoso de estar próximo de quem comanda neste momento o país, decidiu criar um partido, o PSD.

E aqueles que imaginavam ser uma tarefa difícil a criação de um partido de porte enganaram-se. A possibilidade de sair da oposição e ingressar num organismo sem ideário – porque não é de direita, nem de esquerda, nem de centro, como o definiu o próprio Kassab – mas que tem a possibilidade de aliar-se ao governo, ou a quem tem a perspectiva de sê-lo, dependendo apenas de circunstâncias, reuniu um grupo considerável de políticos. Foram dezenas os aderentes.

A oposição se enfraquece a cada dia.

E os opositores não se ajudam.

O senador Demóstenes Torres (DEM), um ex-promotor de justiça, vinha se notabilizando pelo seu discurso enérgico e bem embasado, sob o ponto de vista jurídico, em defesa da ética e dos bons costumes na República.

Pois de um momento para outro ele aparece vinculado, afetiva e efetivamente, ao bicheiro Carlinhos Cachoeira, um notório contraventor que está, neste momento, na cadeia.

O próprio senador foi à tribuna, quando da primeira denúncia, para justificar o recebimento de caríssimos presentes de casamento.

Nos últimos dias, no entanto, ele submergiu. Ausentou-se do Senado e renunciou à sua condição de líder do DEM, diante de novas e avassaladoras denúncias.

Está gravado pela Polícia Federal: ele pediu R$ 3 mil ao bicheiro para pagar o aluguel de um táxi-aéreo. Convenhamos: nada justifica isso.

E há gravações ainda mais comprometedoras, pelo que se diz, além do estranho celular codificado em Miami e que ele recebeu de Carlinhos Cachoeira para que pudessem conversar sem o perigo de um “grampo” da Polícia Federal.

O constrangimento de seus parceiros de oposição, nas últimas horas, é evidente. O próprio presidente do DEM, senador Agripino Maia, ameaça expulsá-lo do partido.

O governo nem precisava de tanta ajuda, porque tem ampla maioria, na Câmara e no Senado. Mas já que a oposição assim quer…

 

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