OS GATOS …

Os gatos, diz Mário Quintana, são as únicas criaturas numa sala cuja pose ou indiferença não são fingidas. Os gatos realmente não estão nem aí para quem está ao seu redor.

Apesar de alguns inconvenientes, como largar pelos e causar alergias em crianças e pessoas sensíveis, os gatos são exemplos de asseio e higiene pessoal.

Certo dia, lá na casa da Sônia Cabeda, viúva do meu amigo e irmão Arlindo Coitinho, estávamos observando uma gata e seus gatinhos brincando no pátio. E vimos um dos filhotinhos defecar e em seguida tapar o seu dejeto puxando terra com a patinha. Quem ensinou este bichinho a fazer isto? Ninguém.

Os gatos têm hábitos noturnos. Quando eu trabalhava no BB e tive que ficar fora da cidade por algum tempo, quando retornei percebi, de madrugada, que havia um habitante novo na casa, pelo barulho que ouvia em baixo das camas. Era um filhotinho de gato, que as crianças me haviam ocultado, com receio de que eu não o quisesse, que andava caçando baratas e outras pragas domésticas no escuro.

Mas entre os hábitos noturnos dos gatos está a boemia. Quando morava na Rua Thomaz Albornoz, à meia quadra da Rivadávia Correa, tínhamos em casa um gato adulto que todas as tardes, aí pelas quatro e meia, costumava subir em direção à Rua Rivadávia, em cuja esquina dobrava. Ele fazia isto todos os dias. Até que um dia tive a curiosidade de segui-lo. Peguei o meu mate e subi a ladeira atrás dele. Vi-o entrar por entre as grades do portão da casa da Dra. Maria Noêmia Salgado, que ficava na Rivadávia, à meia quadra dali. Como não tinha nada o que fazer, além de tomar o meu mate e fumar um cigarro (deixei de fumar há treze anos), fiquei esperando. Daí a meia hora, ele saiu da casa da doutora Noêmia e seguiu pela Rivadávia, pela calçada da direita, rumo ao centro da cidade. Segui-o a pé por onze quadras, mais de um quilômetro, e o vi atravessar todas as ruas transversais, seguindo sempre pela calçada da direita e parando nas esquinas para evitar os carros. E assim foi, até subir a ladeira da Rivadávia, entre as Avenidas Tamandaré e João Pessoa. Segui-o por mais uma quadra, até vê-lo atravessar a linha divisória para o lado da cidade de Rivera. Então desisti de continuar atrás dele. No dia seguinte, ao amanhecer, estava em casa de volta, dormindo, deitado em baixo de um banco que havia no pátio.

Nunca fiquei sabendo qual seria, exatamente, o roteiro daquele gato. Mas devia ter uma namorada em algum lugar, em Rivera, com a qual passava a noite, ou alguma turma de amigos, gatos castelhanos, também boêmios como ele, do outro lado da linha.

Um dia ele saiu de casa para essa excursão boêmia e nunca mais voltou.

Passado algum tempo, conversando com a Dra. Noêmia, falei no meu gato, que havia sumido e que costumava freqüentar a sua casa todas as tardes. E então ela me disse que também havia estranhado, pois sempre deixava água e uma tigela com ração pra ele no pátio, até que não apareceu mais.

Os gatos, longe de serem animais meramente decorativos, nos prestam um grande serviço. Sua simples presença afasta todas as pragas domésticas, como ratos e insetos dos mais diversos tipos.

Além disso, numa casa, costumam afastar os elementos humanos indesejáveis, captando-lhes, através de uma espécie de sexto-sentido, as intenções, e atraem para si, como se fossem pára-raios, todas as vibrações, miasmas ou emanações negativas, protegendo as pessoas e o ambiente onde se encontram.

 

Luciano Machado

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