Ah, eu sabia!???

No fundo, no fundo, não foi surpresa quando o programa global Fantástico mostrou ao Brasil as falcatruas nas licitações de um hospital universitário público. Entretanto, pelos comentários das pessoas que assistiram a matéria – repercutida nos telejornais da emissora ontem – parece não haver surpresa. É como se tivesse sido emitido um “ah, eu sabia…” com tamanho desdém e desinteresse que deixa pasmo o cidadão que não tolera essas circunstâncias. Claro, é esse mesmo cidadão que – mesmo não querendo admitir sua surpresa – afirma já “saber” tem evidente culpabilidade, pois se sabia, por que não denunciou? Claro, aqui são apenas figuras de linguagens, metáforas para confirmar que há uma verdade absoluta: a ausência dos cidadãos de índole e caráter do meio político, torna possível aos maus caráteres e vigaristas ocuparem os espaço e perpetuarem-se neles, para o bem próprio e o mal da população.

Todo mundo razoavelmente informado, sabia – 0u, no mínimo, desconfiava – que há muito rolo há muito tempo nas relações de fornecimento para os governos e instituições públicas. O aclaramento de como são feitas as maracutaias confirma a máxima: “não há corrupção sem corruptores e corrompidos”. O funcionário público honesto, entretanto, é quem mais acaba “pagando o pato”, pois é artigo raro em um ciclo em que o desonesto é a praxe. Em que pese ser fundamental separar o joio do trigo, permanece quase que impossível criar um filtro que possa estabelecer uma barreira entre um e outro pois os braços do Estado, nesse aspecto, são amarrados.

A verdade é que está explicado o enriquecimento de alguns agentes que orbitam no entorno do setor público, nas últimas décadas. Imagine o leitor se os números apresentados na reportagem televisiva estiveram, pelo menos, parcialmente corretos, em cada licitação “picareteada” dá mais de R$ 130 mil para o bolso do corrompido.

Quem sabe não seja, realmente, o divisor de águas, pela tamanha repercussão, que faça com que a cidadania reaja, inclusive no meio empresarial – no caso citado, já acostumado às picaretagens -. Brandas, as legislações para punir aqueles que envolvem-se em fraudes do gênero acabam sendo desconsideradas e a “síndrome do não dá nada” instituiu-se, tornando-se vigente.

Para completar o exemplo daquele comercial de televisão, um institucional do próprio governo em que durante o descarregamento de uma carga de computadores para uma instituição, um funcionário diz para o outro: “a transportadora entregou computadores para mais”, sugerindo que seria possível pegarem os equipamentos já que “ninguém iria saber”. Num jogo de câmera, é mostrado um fragmento da infância do outro funcionário devolvendo um lápis para uma colega de aula. “Como não, eu vou saber!” Foi a resposta do outro.

E a sua, qual é?

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